quinta-feira, 15 de março de 2012

Um padre sem papa na língua


Padre Madeira foi o primeiro vigário que morou em Frei Paulo, não era um homem de meias palavras. Cumpria suas desobrigas religiosas com amor e extrema responsabilidade. Sofreu perseguições por conta de sua postura de justiça, condenando atos autoritários dos políticos locais. A igreja bonita que temos hoje em Frei Paulo devemos ao padre Antônio Leal Madeira. Ele se esforçou para construir apesar da pobreza da cidade. A antiga igreja foi demolida e em seu lugar ergueram a atual com essa torre alta e seu interior em estilo clássico com lindos afrescos. Também a casa paroquial foi ele que construiu. Por mais de 20 anos foi vigário de nossa cidade, mas esteve afastado certo tempo permanecendo em Alagadiço tendo em vista retaliações que sofreu, por isso mandava outros padres celebrar a missa.
Foi uma briga feia que teve com Pedro Lima, que naquela época era o cacique político da região, já tinha sido intendente e usufruía de muito prestígio político, mas era um sujeito extremamente duro com seus adversários, não conseguia conviver com os que se opunham a sua ideologia de ultra direita.
As perseguições que encetava, eram tão devastadoras que até mesmo seus correligionários reprovavam. Padre Madeira repudiava esse seu comportamento eivado de requintes de perversidade, no sermão, descia-lhe a ripa, criticando suas práticas execráveis.
Por isso, ele mandou prender o Padre Madeira. O fato só não se consumou pela interveniência providencial de sua esposa D. Creuza, que alertou ao marido que se ele prendesse o vigário, a cidade inteira iria se revoltar contra ele e com certeza ele logo perderia o prestígio político. Mesmo assim o clima ficou feio e por isso o Padre Madeira se afastou por alguns anos. Para o desgosto dos freipaulistanos que por ele nutriam muita admiração e carinho.
Padre Madeira, tinha lá suas manias, um dia ao ouvir o repicar dos sinos de “finados”, perguntou quem morreu. “Foi o Sr Coelho” Mandou imediatamente suspender as exéquias na igreja, pois o finado não se confessou nem recebeu a extrema unção.
Ele só fazia a encomenda de uma alma com o caixão aberto. Certo dia chegou um morto à igreja, “nois viemo tomando cachaça até aqui pra agüenta o fedô” disse um parente, mas padre Madeira fez questão de mandar abrir o caixão. Começou a resmungar algumas palavras do ritual: “Résquie eterna dona domine” E disse: “Fecha logo... vá feder assim no inferno... desgraçado”.
Minha avó, D. Mizinha, de saudosa memória era quem nos contava essas histórias, que hoje estão no seu livro de memórias que sempre gosto de reler. Ela conta que os sermões do Padre Madeira eram revestidos de erudição, dava gosto assistir suas pregações dominicais. “Falo ‘ex cátedra’ da cátedra de São Pedro para transmitir a palavra de Cristo”, a matutada ficava boquiaberta. Era português, por isso, as vezes era difil decifrar suas palavras.
Quando minha avó D. Mizinha, se casou com Tonho Carpina a sua pergunta foi interessante:"Mizinha você quer se casar com um rapaz de uma família que ninguém conhece?"
Foi também o padre Madeira o responsável pela primeira visita episcopal de Frei Paulo, o bispo era Dom José Thomaz, foi uma festa para a cidade que recebeu de braços abertos a visita dessa autoridade eclesiástica, um acontecimento que entrou para a história. Ao deixar Frei Paulo organizou-se sua despedida na igreja, muita gente chorou quando o Padre Madeira partiu, pois era amado pelos freipaulistanos.

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