sexta-feira, 23 de março de 2012

Louco por Roberto Carlos


Zé de Rola era um carpinteiro que morava na Chã do Jenipapo, logo ali depois do Tanque dos Cavalos bem em frente à Fazenda de Bado. Sua figura lembra o recruta zero, se traduzida para os quadrinhos. Magro e cuca fresca. Olhos verdes claros que transmitiu para sua prole. Era comum ver Zé de Rola de enchó na mão trepado nos telhados realizando reparos ou instalando cumeeiras nas casas em construção. Roupas simples era um homem cortez é o genitor de figuras folclóricas da vida freipaulistana, entre os quais figuram: Guedes, Madeirinha, Nicaço, Zé Feio e as suas irmãs que não lembro agora o nome.
Dentre os filhos de Zé de Rola o mais controvertido era Madeirinha. Um palhaço sem precisar pintar o rosto. Esse cara rodava por toda parte, a pé ou de bicicleta cantando músicas de Roberto Carlos. O cara era insistente e aonde chegava cantarolava o tempo inteiro essas músicas. O irmão mais velho, Guedes tem uma voz grave e bem entoada e também se auto intitula cantor. Qualquer festa na cidade lá está ele entoando boleros do tempo do cuspe com seu vozeirão. Já o irmão era louco por Roberto Carlos e bota louco nisso.
O Nicaço nunca abriu a boca pra cantar, sua figura apagada e introspectiva despertava compaixão. Tímido com seus trapinhos simples era uma figura apagada. Já o caçula Zé Feio é o único dos irmãos que parece normal. Trabalhava nas fazendas como vaqueiro, sendo um rapaz musculoso e de poucas palavras. Zé de Rola era amigo dos filhos e não interferia no estilo de vida de cada um. Madeirinha era o mais problemático e quando bebia perdia as estribeiras e aprontava confusões que acabavam em tapas e pontapés e às vezes em cadeia.
No outro dia lá estava ele pra cima e pra baixo, cantando: “Você meu amigo de fé meu irmão camarada” com as canções do rei curando as feridas dos atropelos. Era movido a paixões, dizem que cantava e quando se apaixonava por alguma moça passava o dia e a noite indo e voltando pela mesma rua que ela morava. Eu já presenciei isso por diversas vezes. Foi assim com uma moça da Serra Redonda que morava ali na Rua do Postinho. Ele enchia o saco cantando o dia inteiro indo e voltando tentando obsessivamente chamar sua atenção. Ela nunca soube desse amor secreto.
Ele trocava constantemente de paixão, pois quando a família da moça sabia de suas intenções, ou melhor, de suas más intenções, o procurava e davam-lhes um esculacho. Ele carregava um estigma por conta de seu comportamento que era o de um verdadeiro maluco. Ele fazia de tudo pra chamar a atenção. Houve um tempo que andava vestido com roupas de saco. Outras vezes andava em pernas de pau. Quando o tamanco virou moda ele mesmo fabricou um que era excessivamente alto. As laterais lembravam uma gaiola e dentro colocou dois ratos. Caminhava por todo canto com esse insólito calçado. Em outras ocasiões aparecia vestido de mulher.
Gostava muito de conversar e puxava papo com todo mundo, era tagarela e suas opiniões eram as mais estapafúrdias, abordava do padre ao prefeito sempre disposto a discorrer sobre assuntos impertinentes. Madeirinha era um estorvo para a cidade. Enquanto uns riam de suas presepadas, outros o ignoravam, já outros detestavam seu controvertido estilo de vida.

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