sábado, 24 de março de 2012

Com vocês o palhaço Tibira


Havia muita diversão na cidade. Não demorava muito, mais um circo chegava para a alegria geral de nossa comunidade. Não eram circos grandes, os maiores que já vi em Frei Paulo, foram: o Silva, Gran Bartolo, Vostok, Geovanine, o Thyane eu assisti ainda menino, mas foi em Itabaiana. Quando o circo chegava os ânimos se elevavam. A Trupe percorria as ruas com seus penas-de-páu, malabaristas e rumbeiras, uma previa coloridíssima, sob o grito “Arrocha Negada” Os palhaços eram as atrações favoritas. Mas tem um circo que na minha infância marcou época foi o circo do palhaço Tibira. Lembro-me perfeitamente dele, do seu porte atlético e de sua versatilidade. Tibira era o próprio dono do circo, e vez por outra estava de volta, ele gostava tanto de Frei Paulo que não faltou nada para seu circo ficar definitivamente por lá. Fez amizades com o povo. Ele era uma espécie de faz de tudo, como palhaço é o melhor que já vi, o mais engraçado dos que já passaram por aqui, a voz de palhaço inconfundível, criativo, improvisava as piadas e envolvia a platéia nas suas brincadeiras. Era também trapezista e malabarista e ainda na segunda parte do espetáculo incorporava um ator.
Era um circo de médio porte, tinha uma boa empanada e barracas novas ao seu redor. Sonolentos mata cachorros. A equipe de artistas também era boa. Rumbeiras bonitas que atraia a atenção de muitos gaiatos. O apresentador era eloqüente e tinha um português aceitável. ”E com vocês, Adriana Silva em passes de rumba”. E lá vinha ela graciosa bailando com seu biquíni cheio de lantejoulas sob uma música de guitarradas em estilo caribenho que levava a galera ao delírio. Muitos nessa hora iam para bem perto do palco para ver bem de pertinho sua exuberante sensualidade, apesar da barriguinha um pouco acentuada. Quando ela levantava a perna era uma gritaria geral. Depois ela simulava que estava jogando sua perereca para a platéia, nessa hora muitos entravam em êxtase e a algazarra e gritaria era ouvida de longe por quem estava de fora do circo.
Mais um pouco, a grande atração da noite: “E com vocês o palhaço Tibira” eram aplausos e risadas para as presepadas desse impagável humorista. Ele usava um sapato comprido e se equilibrava na ponta do pé, nessa hora sua altura passava de dois metros. Era cheio de piadas e na platéia escolhia sempre alguém para envolver nas brincadeiras, todos riam muito quando vez por outra ele falava “Ai Ciço Bicho me morda” se referido a Cícero de Zezé de Dona Rosa. Tibira contava todas aquelas piadas manjadas de circo, mas com ele essas piadas mesmo que conhecidas tinham uma graça toda especial, ele era um palhaço de verdade.
O seu circo demorava meses armado em Frei Paulo, mas depois não voltou nunca mais. Uma notícia dava conta que ele havia morrido em uma apresentação de trapézio. Não esqueço que ele era um dos melhores que já vi, executando com muita precisão saltos mortais incríveis e sem rede de proteção. Ele morreu ao despencar do trapézio fazendo o salto duplo mortal, ao que tantas vezes assisti sob grande suspense, vendo a bateria repicar a caixa antes da arriscada manobra.
O circo ainda hoje ocupa lugar na memória dos freipaulistanos. Era uma grande opção de diversão para nosso povo que gostava das mágicas e também das peças teatrais apresentadas durante a parte final dos espetáculos como por exemplo "A Louca do Jardim", eram denominadas de “Drama”. Estórias comoventes que levavam muitos às lágrimas. Gente de todas as idades freqüentava os espetáculos, mas nenhum deixou tanta saudade como os do inesquecível palhaço Tibira.

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