domingo, 18 de março de 2012

Os embalos da Boate Spring Flowers


Na década de 70 a cidade fervilhava, a juventude aproveitava os finais de semana para se esbaldar naquilo que chamam hoje de “balada”, essa palavra que define os divertidos programas do sábado á noite. Na sexta feira já começavam a chegar os rapazes e moças de Frei Paulo que estudavam no internato do Colégio Agrícola Colégio Agricola Benjamin Constant, uma vez que a cidade na época só dispunha do curso ginasial que era uma escola da CNEC, o extinto Ginásio Cônego José Antônio Leal Madeira, onde também estudei. Naquela época, quem quisesse continuar os estudos, ou ia para o Colégio Agrícola, opção da grande maioria, ou estudava no Murilo Braga em Itabaiana.
A alegria era geral e o reencontro com amigos criava um clima muito gostoso. Às sete da noite os rapazes e moças já se exibiam na Praça do Correto e circulavam com suas melhores roupas bem ao estilo da época. Camisas caxarrel, calças boca de sino e sapatos cavalo de aço. As meninas se enfiavam em mine saias que era a coqueluche da época, mas poucas moças podiam usar, como todos sabem, Frei Paulo é uma cidade onde sempre transbordou o fervor religioso, e com ele, hábitos conservadores ditados pelos país. A turma marcava presença no bar “O Cajuzinho” que pertencia a Dedé da Padaria.
Eram namoros , paqueras, e aqueles que possuíam carros ou motocicletas, ficavam dando voltas e mais voltas pela cidade com suas máquinas brilhando, era uma movimentação intensa. Naquele tempo a televisão já existia, mas contava-se a dedo quem as possuía. Então a opção era a praça. Os mais idosos colocavam cadeiras nas portas e ficavam até tarde observando o vai e vem dos adolescentes. Também das cidades vizinhas chegavam rapazes disputando território, mas eram logo escorraçados pelos pais que não queriam ver suas filhas namorando forasteiros.
O destino final era a Boate Spring Flowers, que ficava na Praça João Teles da Costa, no interior do Grêmio Sesquicentenário. Ganhou esse nome porque na época era chique batizar qualquer coisa com nome estrangeiro. Ali se dançava discotheque até altas horas, regado a montila com coca ou whisky Old Eigtht. No meio do salão, sob a luz negra que dava um lindo efeito, viam-se rostos de lindas garotas bailando no salão em grupos e no meio das danças agitadas, o ritmo frenético era quebrado pelas músicas internacionais lentas. Ai os rapazes saiam como verdadeiros pedintes circulando no salão chamando as moças para dançar e colecionando “foras”.
Mas logo os embalos voltavam e aí se observava matutos desengonçados, sapateando no salão, esses já cheios de cana dançavam sozinhos como pobres diabos, fadados ao desprezo, mas mesmo assim todos os sábados estavam lá para se divertir. Frei Paulo sempre teve fama de ser uma cidade de mulheres bonitas, isso atraia muitos visitantes, mas pouquíssimos conseguiam engatar um namoro. Era um tempo muito bom de pessoas puras que queriam simplesmente se divertir.

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