terça-feira, 13 de março de 2012

O Tanque dos Cavalos


Toda da cidade que se preza tem sua praia ou sua piscina, para nos momentos de lazer seus habitantes se refrescarem desse calor tropical. Na cidade de Frei Paulo, a porta de entrada do sertão sergipano, o Tanque dos Cavalos, um lago formado pelas águas da chuva é que atraia a molecada para mergulhos refrescantes e muitas aventuras. Sempre representou um perigo imeinente para a maioria das mães, muito embora não se conheça registro de mortes por afogamento. Suas águas amareladas, barrentas, porém refrescantes, eram propícias a brincadeiras incríveis. Alguns adultos também iam se banhar, era comum observar matutos de calção se esfregando com sabonete de alcatrão e depois mergulhando em suas águas.
Aventura garantida para toda a molecada neste local que tem as margens cheias de arbustos, arvoredos e na direita, três grandes baraúnas que além de oferecer uma sombra muito agradável servia de trampolim para saltos ornamentais incríveis. Uma dessas árvores tombou para dentro do tanque e com isso se tornou um lugar ideal para os saltos. Um dia, Beto irmão do Galego do Tanque, neto de Sete Quedas, abriu a cabeça ao mergulhar e acertar um pedaço submerso dessa árvore. Foi praticamente escalpelado.
Alguns tocos da velha baraúna tombada, serviam de bóia para os mais afoitos irem até o meio do tanque, onde dizem haver um “porão” de muita profundidade. Ali nadadores exímios se exibiam indo até o fundo e trazendo lama na mão. Já tentei fazer isso por diversas vezes e nunca conseguir, na verdade tinha muito medo de me afogar. O tanque dos cavalos não era tão somente um balneário, era usado de forma indiscriminada por muita gente, para lavar carros, para dar água aos animais, para lavar os vasos de leite.
Apesar de ser agredido pelo óleo e pelos dejetos, resiste bravamente e quando o inverno chega, cresce e alaga vários terrenos vizinhos dando origem a um pântano. Ele é pródigo em peixes de várias espécies, e mata e já matou a fome de muita gente. Nas suas águas, já batidas, por pescadores de anzol, tarrafa e rede de arrasto, encontra-se corrós, tilápias, traíras, muçuns, cágados d’ água, caboges, jundiás e muitas piabas, e, ainda um peixinho minúsculo conhecido por barriguda. Essa era a fauna aquática desse grande reservatório de água da chuva.
Ao olhar atenciosamente suas margens, nota-se ondinhas coloridas, efeito da poluição causada pelo óleo dos carros. No barro no qual repousa, caramujos transmissores do schistosoma. Algumas crianças da redondeza, principalmente as que se banham diariamente nas suas águas, possuem aquela barriga grande, típica da doença. E ali, alheios ao perigo todos nós mergulhávamos por horas e horas entre risos gracejos e algazarras. Brincadeiras pesadas quando da patota integrava amigos como Airton de NIcinha, Bento de Diógenes e Escorrego. Vez por outra uma mãe aflita aparecia à procura de algum filho sumido, já sabia onde o encontrar.
A ida ao tanque dos cavalos era sempre boa, descendo a ladeira do Curral do Açougue, porém a volta pra casa nem sempre era um mar de rosas, tendo que subir ladeira sob chicotadas, tapas e xingamentos de toda sorte, parecia que o lugar era amaldiçoado pelos pais, não sei até hoje por que. Queria assustar alguém dissesse. “Sua mãe está lhe procurando por toda a cidade” Imediatamente o banhista pegava suas roupas e disparava ladeira acima alguns até chorando.

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