domingo, 11 de março de 2012

O rei da brincadeira


Um dos amigos que mais admirei em Frei Paulo na minha infância foi Dudu. Ele realmente era um cara super inteligente, e mestre em organizar a molecada em brincadeiras sadias. Era um leitor inveterado de gibis e colecionava verdadeiras preciosidades naquela época: Fantasma, Batma, Tex, Asterix e Tio Patinhas. A poucos ele emprestava suas revistas e também entre a nossa turma uma meia dúzia cultivava o hábito da leitura. Sua casa na Rua de Itabaiana guardava tesouros em brinquedos. O seu pai era mudo e a mãe D. Neildes, uma senhora generosa e muito paciente com o estilo de vida do filho. Todos queriam participar das criativas brincadeiras. Só de carrinho para puxar com barbante, Dudu possuía uma frota e cada um dos amigos tinha o direito de passar o dia com ele . Minha preferência era um jipe amarelo de plástico, adaptado com feixes de mola feitos com fitas de enrolar fardo de algodão. O carro possuía um molejo nas curvas tinha boa estabilidade. Outro de sua frota era um caminhão de madeira trucado, o maior de todos. Celso de Zé Pequeno também preferia esses dois carros, motivo de grande rivalidade e de discussão, logo apaziguadas com as sábias palavras de nosso líder.
Dudu era um jovem muito paquerado por lindas meninas da cidade, mas ele parecia se preocupar mais com as brincadeiras, já avançado na adolescência não acompanhava sua geração e ocupava seu tempo livre em brincadeiras como essa de puxar comboios de carrinhos pelos sítios da redondeza. Nosso grupo ia para Chã e de lá voltávamos carregados de castanha. No quintal de sua casa o tacho fumegante torrava as castanhas para o preparo de um fubá delicioso feito com castanhas pisadas e farinha de mandioca. O cheiro da fumaça do azeite é um perfume que nos remete à infância. De noite a gente se fantasiava de índio , cada um tinha seu nome: Touro sentado, Duas Penas , Apuanã etc. Imaginação e muito divertimento era o que não faltava.
Os meninos de minha geração adoravam essas brincadeiras e Dudu, sempre sorridente nos apresentava cada dia uma nova idéia, tudo num clima ótimo de muita paz . D. Neildes assistia a tudo com muita naturalidade. O seu pai o mudo,não interferia , mas à tarde a casa dava lugar a uma escola, uma banca que era conduzida pela sua irmã Maria, uma enérgica professora, que gostava de castigar alunos traquinos. Eu estudei lá e sei disso. Das dezenas de amigos de Dudu, poucos tinhas o privilégio de aos domingos ir para a propriedade da família que ficava ali , depois do Alambique de Seu Antônio de Germino. Naquela malhada, corríamos com os cachorros e as diversões se estendiam até a noite com a participação de Gileno, o morador, e Henrique o irmão mais velho de Dudú, um cara espetacular, super agradável . Ele não era letrado como seus irmãos mais novos, mas era educado e muito atencioso. À noite adentrávamos a mata, próximo ao açude Buri em caçadas noturnas que resultava em capangas cheias de rolinha pitui. Devoradas com cuscuz com leite, essas aves eram uma iguaria apreciada muito pelos freipaulistanos foram praticamente extintas. Foi Zé Barbeiro quem vaticinou: "Deu uma murrinha e acabou tudo".
Porém, um certo dia fomos para a casa de Dudu e ele já não era mais aquele magricela imberbe, o convidamos para brincar e ele respondeu que não haveria mais brincadeira e saiu de mãos dadas com a namorada, uma moça muito bonita de nome Hélia. Algum tempo depois ele foi aprovado em um concurso do Banco do Brasil e até hoje trabalha no banco, casou com outra moça e teve filhos lindos. Morava numa chácara, levando uma vida de muita privacidade, não sei se mora ainda em Frei Paulo. Mas uma coisa é certa, ele foi um dos melhores amigos que já tive nessa vida. E com certeza são tempos que não voltam mais, por isso agradeço a Deus por ter vivido intensamente cada momento.

Um comentário:

  1. Parabéns pelos detalhes em sua lembrança de criança.
    Realmente, tivemos uma excelente infância, melhor ainda, foi uma INFANCIA FELIZ.

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