quarta-feira, 21 de março de 2012

Ouro de Tolo


Na década de 70 um grande parque armado na Praça da Feira tocava a música “Ouro de Tolo” de Raul Seixas, e ali do lado, no Bar de Dadá, via-se os viajantes comendo um lanche na costumeira parada dos caminhões pau de arara que viajavam com destino a Carira, Paulo Afonso. Outros no sentido contrário para Itabaiana, Ribeirópolis e Aracaju. Eram na maioria feirantes, os empoeirados viajantes. Eles adentravam o recinto e ali no balcão provavam o delicioso refresco de maracujá do mato e aquele bolo de leite quentinho, delicioso, cuja parte de cima tem a consistência de um pudim. Enquanto isso os motoristas abasteciam seus possantes no Posto de Zé Onofre. Às vezes um pneu furado. Chega, leva pra Borracharia de Zé Aldino.
O conserto de pneu rendia a ele um bom dinheirinho, o suficiente para levar uma vida, simples ao lado da mulher e do filho Ricardo, que naquela época, era um bebê. A sua esposa muito dedicada, cuidava da casa com muita resignação dado a pobreza. Levavam uma vida de simplicidade, mas Zé Aldino sempre sonhava com uma vida abastada, por isso parte de sua renda na borracharia ele gastava apostando na Loteria Esportiva. Era comum vê-lo circular pela cidade, sempre sujo de graxa e estressado pelo trabalho pesado da borracharia.
Um dia, porém, da noite para o dia, se tornou um homem rico. Não que tenha acertado os treze pontos da loteca, não. Mas porque era herdeiro de uma grande fortuna deixada pelo pai, um dos maiores fazendeiros da região. Com a morte do pai colocou a mão numa grande fortuna dividida com a irmã Valdice. A primeira coisa que fez foi fechar a borracharia. A mulher ele abandonou e os amigos que o cumprimentavam ele fingia que não lembrava quem era. Tornou-se um sujeito, pernóstico, arrogante e boçal, um antipático que arrotava grandeza.
A mudança começou pelo seu visual, comprou um jeep novo, calça de marca, sapato cavalo de aço, camisa de primeira, bem engomada e um chapéu de fazendeiro adornava sua cabeça. Quantas vezes, quando era pobre, chegou para os amigos e com vontade de fumar dizia: “me dê aí a bia” E matava sua vontade fumando cigarro babado pelos outros. Foram muitas vezes também que ele andando pelas ruas de Frei Paulo, logo que enriqueceu, deixava cair o março de Continental e seguia em frente, não se abaixava para pegar do chão. Achava-se um nobre. A sua vida de rico até que durou algum tempo, no máximo uns dois anos.
Ele dizia que estava indo embora, “esta é uma cidade de pobre”. Dizia. Então se mudou para Itabaiana, onde por algum tempo foi o rei dos cabarés, contam que ele mandava fechar os prostíbulos, expulsando todos os homens e gastava muito dinheiro na noite, sendo por demais generoso com as putas. Bebia e fumava cigarro das melhores marcas. Não queria nem ouvir falar em trabalho. Com esse estilo de vida não demorou muito para lhe sobrevir a ruína. Pouco tempo depois, ao contrário da Irma Valdice, que soube conservar a herança, Zé Aldino estava pobre, maltrapilho, perambulando pelas ruas de Frei Paulo sem eira nem beira, quando reencontrava os velhos amigos, com sua a cara bem cínica dizia: “me dê a bia aí”. Muitos passaram a ignorar sua presença, a verdade é que depois disso ele nunca mais se acertou na vida.

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