sábado, 27 de outubro de 2012

"Segurança" do Jardins é solto.

O segurança do shopping Jardins Diogo Santos Carvalho, 42, indiciado por estupro qualificado foi solto. O alvará de soltura foi assinado pelo desembargador do Tribunal de Justiça (TJ) Edson Ulisses. A informação foi confirmada pelo assessor de comunicação do TJ, Euller Ferreira. A equipe do Portal Infonet tentou entrar em contato com a delegada Lara Schuster, da Delegacia de Atendimento a Grupos Vulneráveis (DAGV) e com o desembargador, porém não obteve êxito. Continuamos à disposição através do telefone (79) 2106 8000 e do e-mail jornalismo@infonet.com.br. Caso Após flagrar o casal namorando no banheiro infantil, Diogo levou os adolescentes a uma sala e obrigou o casal a fazer sexo para que ele registrasse as cenas, depois obrigou a menina a fazer sexo com ele, segundo ela ele consumou o ato sexual e ameaçou levar os adolescentes para a delegacia. Diogo foi preso após ser acusado de praticar abuso sexual contra uma adolescente de 14 anos, e de registrar imagens de prática sexual entre a garota e seu namorado de 16 anos. O fato ocorreu no dia 12 de outubro e o inquérito tinha sido encaminhado para o poder judiciário. ( Fonte: Infonet)

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Seis foram presos e quatro mortos eles assaltavam bancos em Sergipe e Alagoas

Uma quadrilha de assaltos a bancos que agia em Sergipe e Alagoas foi desarticulada na madrugada deste domingo, 21, durante operação policial que envolveu policiais dos dois Estados. A ação aconteceu simultaneamente nos municípios de Porto da Folha (SE) e Traipu (AL) e terminou com a morte de quatro homens e a prisão de seis pessoas. O grupo se preparava para explodir o cofre do Banco do Nordeste, em Gararu, distante 156 km de Aracaju. Durante coletiva de imprensa realizada nesta segunda-feira, 22, o diretor do Complexo de Operações Especiais (Cope), Everton Santos, esclareceu que as investigações começaram após arrombamentos a caixas eletrônicos de Brejo Grande e Boquim. “O crime em Boquim foi a única explosão de cash registrada em nosso Estado. Percebeu-se que esta quadrilha não possuía conhecimento técnico, pois ao invés do cash, explodiam a agência toda”, diz. Após 25 dias de investigação, policiais montaram barreiras nos dois municípios e conseguiram interceptar três homens quando eles atravessaram o rio que faz a divisa Sergipe e Alagoas. Foi neste momento, que a localização exata da base da quadrilha foi identificada e um cerco policial foi montado em Porto da Folha. De acordo com o Comandante da Polícia Militar, Coronel Maurício Iunes, que comandou a operação, os outros homens foram localizados em uma chácara de difícil acesso na zona rural do município. “Para não sermos percebidos, nos deslocamos a pé pelo mato, mas um deles percebeu nossa presença e fomos recebidos a tiros. Eles estavam preparados e obtinham informações através de motos que circulavam na cidade para verificar a presença de policiais”, detalha. No confronto, os quatro homens que estavam na chácara foram mortos, entre eles, apenas um identificado, Cleovanio Oliveira Costa, que foi posto em liberdade para que pudesse passar o aniversário da esposa em casa. Ele também era integrante do mesmo grupo de Nildo Macedo da Silva (Bida), acusado de participar do assalto à uma agência dos Correios em Frei Paulo, onde o escrivão de polícia Flávio Santos de Oliveira Matos, 29, foi morto. Nesta ação, a polícia apreendeu um fuzil 762, duas pistolas 380 milímetros, rádios comunicadores e três revólveres calibre 38 que, segundo o Coronel Iunes, pertencem à empresas de segurança de Sergipe. “Isto prova que há outros delitos cometidos por eles. O Fuzil é um armamento usado pelo Exército brasileiro e tem poder de fogo para matar 10 pessoas enfileiradas e também dominar a polícia local”, comenta. O delegado Everton dos Santos ainda completa que a polícia dará prosseguimento às investigações. “Vamos fazer um verificação de quem são os integrantes da quadrilha e enviar um ofício ao Exército no sentido de saber para onde o material [explosivo] tem sido destinado. Queremos saber qual empresa deixou desviar esses produtos para os deliquentes”, ressalta Everton Santos. Alagoas Foram presos em Traipu, Jerda Dias de Oliveira, Jadielson dos Santos e Ervânio Valeriano Gomes. Através deles, a polícia alagoana conseguiu chegar à Jeferson Palmeira de Oliveira, José dias de Oliveira e Rosicleide Palmeira de Oliveira, todos parentes de Jerdas, que era considerado o líder da quadrilha. “Localizamos a casa de Jerdes em Arapiraca e lá encontramos armas, dinamite e muita munição. O local funcionava com um verdadeiro quartel general e tinha portas reforçadas, circuito de segurança e câmeras de TV por todo o canto”, detalha a delegada da Seção Especial de Roubos a Banco (Serb) de Alagoas, Maria Angelita Souza. Ainda de acordo com a delegada, a quadrilha foi responsável por diversos crimes, dentre eles, sequestro de gerentes de banco no qual eles amarravam explosivos na cintura dos profissionais e os obrigavam à abrir o cofre do banco. Eles também são suspeitos de participar de crimes contra as agências bancárias dos municípios Major Izidoro e Olho D’Água Grande. Operação A ação contou com equipes do Complexo de Operações Especiais do Cope (Cope), Divisão de Inteligência e Planejamento Policial (Dipol), Comando de Operações Especiais (COE). As unidades especializadas de Alagoas que participaram foram a Divisão Especial de Investigações e Captura (Deic), por meio da Seção Especial de Roubos a Banco (Serb).

domingo, 21 de outubro de 2012

Polícia mata quatro e prende três ladrões de banco

Quatro pessoas morreram e outras três foram presas durante operação policial desencadeada de forma conjunta entre policiais civis dos Estados de Sergipe e Alagoas. O suposto confronto aconteceu na madrugada deste domingo em território sergipano, segundo informou a Secretaria de Estado da Segurança Pública de Sergipe (SSP/SE). De acordo com nota divulgada pela SSP, a ação conjunta das polícias de Sergipe e Alagoas realizada na madrugada deste domingo, 21, desarticulou uma quadrilha de assaltantes de banco, que seria responsável por ações nos dois Estados. De acordo com a SSP de Sergipe, a quadrilha estava articulando um novo assalto e se preparava para explodir o cofre do Banco do Nordeste, em Gararu, cidade ribeirinha localizada a 156 quilômetros de Aracaju, já na divisa com o Estado de Alagoas. Segundo a SSP, foram realizadas ações simultâneas nas cidades de Traipu (AL) e Porto da Folha (SE), que culminaram com a morte dos quatro suspeitos e a prisão de outros três. O nome dos suspeitos não foi revelado pela polícia. A SSP informa que os quatro mortos estavam escondidos em uma chácara no município de Porto da Folha e os policiais, quando se aproximaram, teriam sido recepcionados com tiros de fuzil e pistola. No confronto, que durou cerca de 25 minutos, segundo a SSP, os quatro suspeitos acabaram morrendo. Nesta ação, conforme a SSP de Sergipe, foram apreendidos um fuzil 762, duas pistolas 380 milímetros, três revólveres calibre 38, que teriam sido roubados de empresas de segurança privada instaladas nos Estados de Sergipe e de Alagoas, além de rádios comunicadores. Segundo a SSP, as investigações que identificaram a quadrilha começaram a partir de arrombamentos a caixas eletrônicos ocorridos nas cidades de Brejo Grande e de Boquim, no Estado de Sergipe, onde ocorreu explosão de caixa eletrônico. Segundo a polícia sergipana, a quadrilha agiria na noite do sábado, 20, quando pretendia explodir mais um caixa eletrônico em Gararu, o que não teria sido possível devido à ação da polícia. Detalhes Nesta ação, as equipes policiais montaram barreiras nos dois Estados, em Traipu, em Alagoas, e Gararu, em Sergipe. A ação teve início na noite do sábado, 20. De acordo com a SSP de Sergipe, os integrantes da quadrilha perceberam a articulação da polícia e optaram por desistir do arrombamento do caixa eletrônico e se recolheram em suas respectivas bases naqueles municípios. Em Alagoas, segundo a SSP de Sergipe, ocorreu uma perseguição desencadeada por agentes alagoanos, e o grupo acabou se envolvendo em um acidente de trânsito. O carro que eles usavam capotou e parte do grupo acabou presa. Já na cidade de Porto da Folha, segundo a SSP, a outra parte do grupo reagiu, entrou em confronto recepcionando os agentes com disparos de fuzil e pistola, e acabaram mortos. A ação conjunta entre as polícias de Alagoas e Sergipe contou com equipes do Complexo de Operações Especiais (Cope), Divisão de Inteligência e Planejamento Policial (Dipol), Comando de Operações Especiais (COE) da Polícia Militar e de todas as unidades especializadas de Sergipe. Em Alagoas, foram envolvidas unidades especializadas e também a Divisão Especial de Investigações e Capturas (Deic), por meio da Serb (Seção Especial de Roubos a Banco). Os detalhes da operação serão divulgadas nesta segunda-feira, 22, em entrevista coletiva a ser concedida por policiais civis dos Estados de Sergipe e Alagoas. A entrevista acontecerá na Academia da Polícia Civil, em Aracaju, mas o horário será divulgado posteriormente, segundo informou a SSP de Sergipe. Com informações da Ascom da SSP de Sergipe

domingo, 14 de outubro de 2012

Relíquia de Família

Todos os anos de minha infância presenteava a matriarca com um cachorro de louça que comprava com algumas moedas na loja de Lilí. Já associava a data àqueles bibelôs que enfeitavam o centro, uma mesinha de vidro que fica no meio da sala que não serve para outra coisa senão, para tropeçar. Ou para alardear quando se chega tarde em casa. Lembro de cada detalhe de nossa humilde casa no Beco do Talho. Ou melhor, Rua Marechal Florentino Menezes. Tinha uma vistosa sala de jantar toda em fórmica branca que quando nova era proibido usar. Servia para bater retratos e encher os olhos de nossa memória em álbuns que dona Helena guarda até hoje. Era uma casa de pobre, mas que tinha certo conforto. Uma TV preto e branco da marca Zenith e uma radiola. A TV apontava para a rua como se dissesse vejam-me estou aqui. Poucos tinham o privilégio desse eletrodoméstico raro naqueles tempos difíceis. Na salinha da frente quadros e jarros bonitos de real valor artístico como um pequeno, porém notável, onde em uma das faces tem um retrato da matriarca e no verso a feliz prole da família Bastos composta de três mulheres e um homem. Eu naquela altura não havia nascido, mas apesar de toda minha traquinagem atravessei gerações e gerações mantendo intacta essa relíquia. A casa no Beco do Talho não tinha luxo algum, mas dava a sensação de estar em um verdadeiro lar. Ali morei praticamente sozinho por toda a infância. Meus irmãos estudavam durante a semana no colégio agrícola e minha mãe, tinha nas costas um mundo como o de Átila, tomando para si toda a responsabilidade da criação e educação dos filhos, batalhava incansavelmente atrás de um balcão numa pequena bodega na Rua de Itabaiana. Nos sábados, eu a ajudava em outra bodega que mantinha na feira de Frei Paulo. D. Helena atravessou anos nessa luta e quase não tinha tempo para si mesmo. Mas sempre foi cuidadosa e sua casa era ornada com jarros e quadros e toda sorte de rococós. Foi nessa batalha que construiu a bonita casa que mora hoje na Praça Capitão João Tavares. Por isso ela é uma mulher muito respeitada em Frei Paulo. Nos finais de semana a casa estava cheia,Ana Selma, criada com a Vó, logo casou. Mas Erta e Heleusa eram moças muito bonitas e os namorados apareciam nos fins de semana e ocupavam sempre a salinha da frente, ali se ouvia músicas muito boas, havia um compacto dos Beatles de papel que tocava Help. Canções de Caetano, Gal Costa e Gilberto Gil, isso era moda naquele limiar dos anos 60, tempos dourados que tanta saudade deixou naquela geração que acreditava piamente que iria mudar o mundo. Não achem estranho se as manifestações de rebeldia, herdadas de Woodstock, pelas plagas sertanejas tenha encontrado adeptos nos moços interioranos com suas longas cabeleiras e girias pueris tipo "morou bicho". Minha Mãe na cozinha preparava pratos especiais para essas ocasiões e entre momentos felizes nossas vidas se encaminhava para seus destinos. A impressão que se tinha, é que aquilo duraria para sempre, como os jarros, os quadros e as amareladas fotografias que hoje servem de combustível para o motor da memória, lembranças de uma vida. Ainda ecoa na memória, os aromas, as cores e, sobretudo um ruidoso desejo incontido de eternidade. Quantos aos chorrinhos de louças nenhum sobrou, pois já que era proibido de tocar os jarros de inestimável valor aristocrático. Destrui a todos enfileirados no muro do quintal com minhas certeiras pedradas de baleadeira. Tive muita vontade, mas, não ousei fazer isso com os jarros.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Mensaleiros ameaçam apelar em cortes internacionais

O futuro presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e relator do processo do mensalão, ministro Joaquim Barbosa, avalia o julgamento da ação como um "marco" para a sociedade e como um possível "freio de arrumação" para a política brasileira. Em entrevista à rádio Estadão ESPN, na manhã desta quinta-feira, 11, o ministro classificou como um "escracho" a intenção da defesa de parte dos réus do mensalão de recorrer das condenações à cortes internacionais. "[O julgamento] vai ser um marco não só para a política brasileira. Para a política talvez signifique um freio de arrumação. Mas para a sociedade é um episódio espetacular porque estamos assistindo a Justiça penetrando nos lares das pessoas, o modo de fazer Justiça", afirmou o ministro, que nessa quarta, 10, foi confirmado como o próximo presidente da Corte. Joaquim Barbosa relativizou as críticas à condução do processo. "As provas estão lá em abundância. O que tem havido é tentativa de politização de um resultado negativo para essa ou aquela pessoa. E quanto a isso, cada um tem a liberdade de fazer o que bem entende", ponderou. Após a condenação por maioria de votos, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e o ex-presidente do PT José Genoino afirmaram que a decisão da Corte foi política e reforçaram a tese da defesa de que faltam provas sobre atuação de ambos no esquema. Cortes internacionais. Sem citar nomes, o ministro voltou a criticar declarações de alguns advogados de defesa dos réus de que pretendem recorrer a cortes internacionais. Joaquim Barbosa lembrou que as decisões do Supremo são soberanas e não subordinadas a outras instâncias. "[Esse posicionamento] é um escracho para com as nossas instituições e mostra que essas pessoas que estão comandando esse movimento não pensam no País. Não pensam na consolidação das nossas instituições. Só pensam em si mesmas, em grupos e facções." Mensalão tucano. O ministro Joaquim Barbosa também, relator do chamado mensalão tucano, afirmou ainda não haver previsão de quando a ação será julgada. O escândalo envolve o desvio de recursos para a campanha do tucano Eduardo Azeredo ao governo de Minas Gerais, em 1998. Segundo ele, apesar de o caso ser mais antigo do que o mensalão ligado ao PT, conhecido em 2005, a denúncia só foi recebida pela Corte em 2009 - dois anos depois da ação atualmente em julgamento. "O mineiro só veio à tona por causa do processo que está sendo julgado. Ele estava escondido. Não há como ter tramitação idêntica", disse. Como Barbosa assume a presidência do Supremo em novembro, a relatoria da ação será transferida a outro ministro, de acordo com o regimento da Corte. (Fonte : MSN)

domingo, 7 de outubro de 2012

João Alves é o novo prefeito eleito de Aracaju

O sucessor do prefeito Edvaldo Nogueira (PcdoB) é o ex-governador de Sergipe, João Alves Filho (DEM). Ele venceu as eleições para prefeito de Aracaju, neste domingo, 7, com 52,72% dos votos válidos, contra 37,62% para o candidato Valadares Filho (PSC). A terceira colocada foi Vera Lúcia (PSTU), com 6,68% e na lanterinha, o candidato do PV, Reynaldo Nunes, com 2,98% dos votos válidos. João Alves Filho nasceu em Aracaju a 3 de julho de 1941. Aprendeu gostar de política cedo [o pai João Alves foi prefeito da capital e deputado federal pela Bahia]. Aos 20, anos, ao passar no vestibular para o curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia, foi membro da Juventude Universitária Católica. De 1975 a 1979, foi prefeito biônico de Aracaju durante a gestão de José Rollemberg Leite. Em 1982, foi eleito governador de Sergipe e em 1987, nomeado ministro do Interior pelo então presidente da República, José Sarney. Em 1990, venceu eleições para governador de Sergipe. Em 1998 voltou a se candidatar paro o cargo de governador, mas foi derrotado poe Albano Franco. Não desistindo, entrou na disputa para Governo de Sergipe em 2002, vencendo o candidato do PT, José Eduardo Dutra. Tentou reeleição em 2006, mas foi vencido pelo atual governador de Sergipe, Marcelo Déda (PT). EM 2010, tentou mais uma vez, mas Marcelo Déda foi reeleito. João Alves Filho nunca se afastou da política e considerado o homem das grandes obras a exemplo da Orla de Atalaia e da ponte Construtor João Alves [ligando a capital ao município de Barra dos Coqueiros] decidiu disputar a Prefeitura de Aracaju nas eleições de 2012, derrotando Valadares Filho já no primeiro turno. Ele é casado com a senadora Maria do Carmo Nascimento Alves (DEM) e tem três filhos: Ana Cristina, Ana Maria [casada com o deputado federal Mendonça Prado (DEM) e João Alves Neto. “A partir de hoje à noite, não temos que discutir o passado. Deus me ajudou e o povo. Agora vamos cuidar de Aracaju, do futuro. Isso é o que o povo quer, isso é o que o povo deseja. Foi gratificante para mim, andar pelas ruas e as pessoas de forma afetuosa e solidária me darem incentivo. Foi feita a vontade de Deus, sem ele nada somos e eu confiei no povo, que é a minha prioridade. Respeito a decisão de Deus e do povo, com muito carinho, com muito afeto”. agradece o novo prefeito de Aracaju.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Déda agradece manifestações de apoio e carinho

O Governador de Sergipe, Marcelo Déda (PT), de 52 anos, iniciou nesta terça-feira, no Hospital Sírio-Libanês, nesta capital, uma série de exames para o início do combate a um câncer no estômago, segundo boletim médico liberado nesta manhã. Déda, segundo o comunicado, foi diagnosticado com uma neoplasia gastrointestinal e “iniciará tratamento quimioterápico”, acompanhado pelas equipes médicas de Roberto Kalil Filho e Paulo M. Hoff. Há uma semana, a assessoria de imprensa do governo de Sergipe divulgou nota informando que o governador Marcelo Déda havia suspendido sua agenda de audiências públicas e de atividades eleitorais por recomendação médica, em função de ter apresentado indisposição no abdômen. Na quinta-feira, conforme divulgado em sua página no Twitter, Déda entregou seu cargo interinamente ao vice-governador, Jackson Barreto (PMDB), e foi a São Paulo para realizar exames. Ainda no microblog, o governador agradeceu às manifestações de carinho e apoio: “A todos vocês, do fundo do meu coração, muito obrigado!”. Marcelo Déda Chagas foi eleito governador de Sergipe em 2006 e reeleito em 2010, ambas em primeiro turno. Antes, foi prefeito de Aracaju, e deputado estadual e federal.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

O fantástico poder da mente


O poder da mente sempre foi para mim algo interessante e meu pai Seu Bastos era um estudioso do tema , lia muitos livrinhos de cowboy sentado numa rede enquanto soltava graciosas baforadas de seus cigarros sem filtro. Lia compulsivamente por horas esses livrinhos que eram parte considerável de sua biblioteca. Mas Seu Bastos aproveitava também o tempo livre, para ler obras de parapsicologia, um tema controverso que ainda hoje empolga a muitos.
Ele era um autodidata que cultivou, mesmo a contragosto, fama de homem culto, inteligente e letrado, avesso às convenções sociais , gostava de política e no período eleitoral desafiava os poderosos com discursos desconcertantes , às vezes falando por horas e horas para uma platéia analfabeta de pai e mãe , não economizava palavras difíceis e termos gongóricos , ao que sempre resultava em efusivos aplausos.
Era o poder da mente posto a favor da política e das relações interpessoais. Bastos era um conquistador renomado e mesmo em idade avançada suscitava suspiros de donzelas que caiam na sua lábia. Folheava os empoeirados livros e tentava também captar ,conquistar um pouco que fosse daquele fantástico poder. Mas meu entendimento não alcançava quase nada daquela complexa teoria, de que a mente é capaz de fenômenos paranormais. Houve um tempo que perambulei pela cidade municiado de garfos e colheres, tentando a todo custo entorta-las tão somente com a força do meu cérebro. Parece que este ainda não se desenvolvera a ponto de realizar essas façanhas, as quais deixava boquiaberta toda a sociedade freipaulistana de olhos grudados assistindo as proezas de um tal Yure Geller na tela do Fantástico.
Ia para as aulas no Leal Madeira e vez por outra ia parar na sala do diretor. A minha tentativa van de colocar em prática minha força mental estava atrapalhando o aprendizado de toda a turma. Vendo que toda aquela concentração e esforço não resultava em nada, aproveitava momentos de distração da platéia e entortava com as mãos garfos e colheres. E dizia: “É gente, dessa vez parece que deu certo” A platéia incrédula desmistificava meu fenômeno parapsicológico.
Muitos autores consagrados dessa área tão fecunda do conhecimento humano, manda ter cuidado com nossos pensamentos, pois eles podem virar realidade. No meu caso virou mesmo,outro dia vi minha mãe reclamando do sumiços dos talheres. Estavam todos tortos e enrolados, mas com o poder dos dedos e não da mente.

sábado, 25 de agosto de 2012

O ladrão de ossos


São os ossos do ofício. A vida naquela altura nos mandava ir à luta . Era um desejo de vencer que nos fazia sair à procura de um meio de ganhar a vida. Haviam poucas opções, é claro, lavar carro era manjado e ninguém fazia isso com a rapidez e perfeição de Airton de Nicinha. Por isso, tinha sua clientela garantida causando inveja. Carros refletiam seu brilho e ele com sua técnica apurada conseguia ótimos resultados, colocava querosene na água . Eu parava para observar, junto com a água o óleo escorria no para-brisa mostrando as cores do arco Iris. Algum tempo depois, aparecia o dono do carro e pagava pelo serviço com uma nota de dez mil cruzeiros. Egoista e faminto devorava generosas fatias de bolo de leite com refresco de maracujá no Bar de Natan. Lavar carros, era um negócio altamente lucrativo, mas também muito competitivo. No posto de Zé Onofre na Praça da Feira se reuniam os feras do dique: Paulo Bôto, Buchinha, Dujer e o irmão de Pimentinha.
Do alto dos meus treze anos pensava em namorar , ter carro e poder luxar com as roupas da moda: calça boca de sino, sapato cavalo de aço e blusa cacharrel. Nesse tempo de férias, a cidade simplesmente fervilhava com seus bailes no clube, eram embalos delirantes ao som de Los Guaranis . Meninas de fora passando as férias em Frei Paulo, era tudo de bom. Onde achar o vil metal para dar vazão a tamanha vaidade. Um dia sentado no obelisco da praça, passei a analisar as formas mais simples de ganhar dinheiro. Catar cobre nos monturos àquela altura não fazia mais o menor sentido. Foi quando ao ver passar pela praça um caminhão carregado de ossos, vi ali uma chance real de empreender um negócio altamente lucrativo. Não dormi direito naquela noite , rolei na cama não vendo a hora do dia clarear para iniciar meu trabalho. Nem bem os primeiros raios de sol adentraram meu quarto , acordei com a sinfonia dos vasos de leite da casa de seu Batista. Pulei da cama e naqueles deliciosos meses de férias dava para fazer uma fortuna em ossos , quem sabe juntar um caminhão deles. Nem sequer pensei quem compraria a tal carga nem para que aquilo serveria.
Mas movido pelo empreendedorismo puro e simples, escolhi o monturo que ficava ao lado do sítio de seu Luizinho para guardar meu tesouro. A primeira coisa que fiz foi um círculo de pedras para deixar bem claro que aquela mercadoria tem dono. Iniciei o árduo trabalho e catei ossos pelos terrenos da redondeza, transportava-os em um bacia com fundo de madeira que peguei na casa de vovó. Já no primeiro dia vi aquela pequena montanha de ossos e me orgulhei. No sertão osso não é problema tem muitos, descobri carcaças inteiras de animais, alguns ossos eram tão branquinhos que de longe lembravam marfim. O dia inteiro catava e juntava esses ossos, Maria de Iraci vendo aquilo, ficou abismada e questionou aquela minha obstinação pelos ossos. Não dei detalhes sobre meus planos. O esconderijo era no fundo de sua casa.
Não dei a menor importância e prossegui na empreitada. Do Alambique, ao Curral do Açougue, catei todos os ossos que vi pela frente. Os dias passaram e eu cada vez mais rico em ossos , nem jogava mais bola, nem caçava mais passarinho, só tinha olhos para os meus ossinhos. No fim do dia, tombava exausto. Quando aquela montanha se formou , despertou a inveja e a cobiça dos larápios. Não deu outra. Um dia, ao chegar ao monturo flagrei um tal de Baiôco, que morava na Rua de Itabaiana, roubando meus ossos. - Ei isso aí tem dono, gritei. Tentei defender o que é meu, mas o cara era grande e metido a brabo, me deu um empurrão e disse que aquilo não tinha dono. Chorei muito ao ver toda aquela riqueza sendo pilhada por aquele malfeitor. Os dias de suor e sonhos, foram todos desfeitos naquele instante e ele indiferente enchia a carroça e rumava para vender meus ossos não sei a até hoje a quem.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Um mago da prosperidade


Como vovó já dizia, mesmo que o inverno fosse fraco, as roças de Chiquinho do Sal prosperavam. Esse nasceu com uma estrela. Um comerciante nato, sua trajetória valiosa, lendária. “O homem mais rico de Frei Paulo”, ainda pequeno recordo os comentários. E lembro muito bem dele em seu casarão na Av. José da Cunha. Era um homem que saia pouco e sua aura de ricaço permitia sair desfilando com seu opala comodoro branco. Falavam que ele enriqueceu vendendo sal, o que acho pouco provável, afinal esse não é um produto de grande valor agregado. Sua fortuna não surgiu do dia para a noite, foi uma vida inteira de trabalho. Ele era muito pobre e humilde, natural de Itabaiana, escolheu Frei Paulo para fincar suas raízes. Casou-se com Edite Alves, Dona Caçula, uma senhora muito zelosa que soube educar e criar os 12 filhos de Chiquinho do Sal. Era um homem respeitado pelo seu empreendedorismo e enquanto expandia seus negócios comprando terras e aumentando seu rebanho, não faltavam convites para participar da vida pública de Frei Paulo, mas ele nunca aceitou participar da política, pelo menos diretamente, sua participação era sempre nos bastidores. Participava da vida econômica e política do município com muita discrição, aliás, isso sempre foi sua marca registrada. Foi um homem que ajudou muito a desenvolver a economia do município. Era às vezes invejado pela sua aura de milionário.
A agência do Banese de Frei Paulo, reinaugurada no terceiro mandato do governador João Alves, leva o seu nome, numa justa homenagem a esse produtivo cidadão. No passado havia apenas sete agencias no interior do estado e sua fundação teve sua efetiva contribuição. Ele fez na época vultosos depósitos na agência, carreando recursos seus de outras cidades, conseguindo assim a liberação do Banco Central para a agência funcionasse. Ele teve essa preocupação porque sabia que sem a presença do Banese a cidade seria muito prejudicada em seu desenvolvimento. Por coincidência seu neto, Francisco Neto ocupou a diretoria do Banese por muitos anos fazendo um grande trabalho em prol daquela instituição financeira. Afinal como dizia o próprio avô que detinha muita sabedoria no trato com as finanças: “O mundo é dos otimistas” E era ele um exemplo de otimismo, um homem que amava desafios e que nunca levou em conta a palavra “crise”. Acreditava na força do trabalho e com isso, vivendo honestamente e sem opulência ajudou a consolidar o progresso da cidade. Outra grande riqueza que conquistou talvez a mais gratificante foi a virtuosa família que constituiu. Chiquinho do Sal sempre foi um símbolo da prosperidade e inveja, ele tirava de letra, afinal nada melhor do que sal grosso para cortar esse mal.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Um ser humano notável


Frei Paulo sempre foi uma cidade naturalmente vocacionada para a educação. Um berço da intelectualidade sergipana. E em meio aos seus filhos mais ilustres, um se destacou pelo seu empenho em compartilhar o saber, e o fez de forma voluntária e abnegada. Esse homem chama-se José Antônio de Andrade Góes. Ele nasceu em meio a um mundo que poucas oportunidades oferecia a seus habitantes, mas com sua bravura, mostrou que é possível vencer. Vitorioso na área que abraçou o Direito, galgou todos os postos e chegou ao topo da carreira de jurisconsulto, assumindo o cargo de presidente do Tribunal de Justiça de Sergipe.
Sua história se confunde com a de tantos outros nordestinos que nascidos em meio à pobreza, vislumbraram novos horizontes e através da educação conseguiram, além de vencer na vida, escrever uma bonita página na história, ajudando a muitos, numa demonstração de desprendimento e devolutório senso humanitário. Ele sempre demonstrou muito amor a sua terra natal e a seus conterrâneos. Foi um homem generoso, inteligente e dedicado, bastava saber que se tratava de algum filho de Frei Paulo e logo se prontificava a ajudar. Que o digam seus ex-alunos do curso de Direito da UFS, onde ele moldou algumas gerações na condição de professor de Direito Civil por 21 anos, a mesma matéria ensinou também na Unit.
Em nossa cidade, ele também lecionou voluntariamente na Escola do Ar, um precursor dos Tele cursos, onde jovens que não tinham condições de continuar seus estudos eram beneficiários. Minha irmã Erta Bastos, não poupa elogios a esse sábio e devotado mestre. Um homem de inestimável valor para a formação intelectual de muita gente que hoje se destaca na sociedade sergipana.
José Antônio de Andrade Góes, filho de Gumercindo Góes e Elizete de Andrade Góes, nasceu no dia 11 de fevereiro de 1943, no município de Frei Paulo, e bacharelou-se pela Faculdade de Direito de Sergipe, em 1966. Casado com Solange Moraes de Góes constituiu uma família com três filhos e seis netos. Iniciou a sua carreira de magistrado em janeiro de 1970, quando foi empossado Juiz de Direito da Comarca de Tobias Barreto, após obter a segunda colocação no concurso público realizado pelo Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe.
Tomou posse na presidência do Tribunal, em 2001, mas até hoje é lembrado com muito respeito pelos seus amigos e colegas do poder judiciário de Sergipe. O cargo de Desembargador ocorreu com base no critério de merecimento, em novembro de 1994. Nesta condição, exerceu os cargos de Corregedor Geral da Justiça (1997), Presidente do Tribunal Regional Eleitoral (1999), Diretor da Escola Superior da Magistratura do Estado, Diretor da Escola Permanente de Corregedores Gerais do Brasil, Vice-Presidente do Colégio Nacional de Corregedores do Brasil e Vice-Presidente do Colégio de Presidentes dos Tribunais Eleitorais do Brasil (1999).
Outros aspecto relevante da carreira jurídica de José Antônio de Góes é sua honestidade e isenção muito bem sintetizado nas palavras de meu irmão Carlos Alberto que foi seu aluno no cursos de direito da UFS: "De tudo que foi dito acima, faltou uma qualidade que deixava todas as outras muito atrás: a ¨honestidade¨. O senso de Justiça de Antônio Góes era de causar a mais profunda admiração para quem esta qualidade valoriza. Ele não queria saber nem nome nem sobrenome de qualquer das partes. Sua isenção era absoluta, coisa que não acontecia com muitos Juízes com quem eu convivi na época".
Frei Paulo é uma cidade pródiga em homens de grande valor, deu a Sergipe importantes nomes que ajudaram decisivamente a edificar sua história com civilidade e porque não dizer com pluralidade, destacando-se em muitas áreas: na política, na cultura e no conhecimento. São homens como esse, de grande valor, que as futuras gerações devem se inspirar, eles com seus talentos e suas lutas, imprimiram seu idealismo e deixaram sua marca no tempo. José Antônio de Andrade Góes é um desses valores que enobrece nossa cidade. Um exemplo de vida, um mestre sapientíssimo, mas antes de tudo, um exemplo de ser humano notável.

terça-feira, 22 de maio de 2012

A alegria dos tizios


"Não os vejo há muitos anos, eles são lindos. Mas lembro-me muito bem” Assim se referiu uma adorável amiga freipaulistana, de priscas eras, ao comentar uma frase que cunhei em uma página das redes sociais. Seu nome Ilza Santos, uma moça que para mim tem aquele mesmo rostinho que vi pela última vez há mais de trinta anos. Guardo sua telúrica imagem vestida com as roupas do ginásio Cônego Madeira passando fagueira pelas ruas, diligentemente com seus livros nos braços na doce companhia das amigas, num tempo que suas mais ousadas intenções eram tão puras como a luz da manhã.
A cidade tinha outro ritmo, mas tudo nos levava a uma dimensão grandiosa. O Mercado na Praça da Feira exalava seu cheiro de verdura e carne e as pessoas que habitavam aquele mundo que agora parece pertencer a um romance como os de Garcia Marques, reverberavam por todos os becos ruas e esquinas. O pai dessa moça passava em sua bicicleta, desviando das poças, de forma cortez a cumprimentar seus patrícios.(como se a água agora não fosse a coisa mais importante do mundo) Seu nome era Zé Vermelho ou “Vermelhaço", era um dedicado funcionário da Deso que ganhou esse apelido pelo aspecto corado de sua face.
Frei Paulo não tem ninguém que não seja de ninguém, os apelidos e filiações aos ancestrais, é algo curioso que não costumo ver na neurose do dia a dia estressante da vida urbana. Aqui ninguém é de ninguém. Pra falar a verdade preferia mil vezes aquele mundo. Nele não só havia a riqueza de amizades sinceras e verdadeiras, e ainda a natureza nos brindava com espetáculos maravilhosos. Vivendo num mundo sem grandes ilusões, mesmo castigados a maior parte do tempo pela seca cruel que nos impunha tanta dor e fome. Os cenários eram desoladores, paisagens mortificadas pela inclemente insistência do astro sol, um armagedon da vida e da morte. E que aventura é viver. E que incerteza é morrer.
Toda vez que sinto cair do céu os pingos da chuva, lembro que algo se transforma dentro de mim. A minha memória me remete às lindas paisagens dos tanques sangrando,dos sapinhos de rabo nos córregos, do preguiçoso gado gordo nos pastos. Recordo com saudade da alegria contagiante dos pássaros doidos no ceu cinzento, atonitos de tanta felicidade e tanta fartura. Começo a sonhar, e volto aos caminhos do açude, é como se reconstituísse cada passo, cada cheiro e cada sensação. É algo que com palavras parece impossível descrever. Algo diferente acontece dentro da gente, numa manhã de inverno no sertão. Em meio às extensas capineiras, de onde brotam voluntariosos pendões carregados de sementes, dezenas de tizius brincam em vôos desconcertantes e ousadas acrobacias, num festival de contentamento e alegria jamais visto.
É assim que me sinto, exatamente como os tizius, hora preto hora pardo, tento me livrar das pedradas da vida. Mais feliz ainda, quando uma frase como essa de Ilza, ou até mesmo a simples palavra tizio, remete para o meu mundo perdido no tempo e no espaço. É como se a natureza tivesse em mim completando mais um ciclo. Dando-me a gratificante oportunidade de reviver, ao lado de meus contemporâneos, meus inesquecíveis idos e vividos. Esses na sua exata dimensão.

terça-feira, 15 de maio de 2012

A Calçada Alta


Os carros de ladeira marcaram época na minha infância, eram feitos de madeira e alguns mais sofisticados, tinham o designer que lembrava os Sincas Chambord ou os Aero Willys, com rabo de peixe e tudo que tinham direito. A concentração era sempre na Calçada Alta. A turma chegava com seus carros e tomávamos aquele atalho no sítio de Paulo Matos e em frente à malhada de Quebra Santo era a largada. A descida durava pouco mais de um minuto, mas era emocionante, alcançávamos velocidades incríveis e eram possível algumas manobras. Bastou um olhar malicioso de Falti e os modelos, já equipados com rolimans, quebravam a barreira do som. A arriscada manobra de retomar o atalho do sítio de Paulo Matos resultava em capotagens espetaculares. Com direito a pés espetados nos espinhos do juá ou da magestade o mandacarú. Quando lembro sinto calafrios.
Essa vereda é a ladeira mais íngreme de Frei Paulo e também era rota dos burros de carga e do gado que migrava de uma fazenda para outra. Esse manejo com o gado está ligado à escassez de alimentos provocado pela seca a qual nos acostumamos a conviver com ela.
Alheio aos dramas vividos pelo gado pensava apenas em nos divertir. A volta era sempre penosa, esta sim era um sacrifício subir a ladeira até o topo para desfrutar de nova corrida. Era um vai e vêm incessante somente interrompido pelas boiadas ou comboios de burros, esses eram constantes transportando cachaça do alambique. As manhãs e as tardes passavam como um raio, mal dava conta do tempo e o crepúsculo nos envolvia com meus milhares de tons alaranjados no apocalíptico espetáculo do cair da tarde. Revoadas de briós e vira-bostas passavam sobre nossas cabeças e tomavam o rumo do tanque de Seu Silva.
Antes de cessar a brincadeira já cansados voltávamos para a Calçada Alta e ali, sugeriam uma ida até o Tanque dos Cavalos, somente aquelas ovelhas desgarradas topavam a empreitada. Muitos hesitantes olhavam a ladeira e balançavam a cabeça. Meninos comportados voltavam para suas casas e o outro bando seguia para as algazarras e aventuras nas águas barrentas. Salto ornamental do topo da baraúna causava emoções fortes. A turma era da pesada Bento de Diógenes, Airton de Nicinha, Escorrego, Beto de Joaninha, Galego de Ranulfo, Bufa, Geraldo de Mané Bomzinho, Celso de Zé Pequeno, Tarzan, Geraldo de Zé de Donozor, Dudú, Sérgio de Batista, Dailton, Galego do Tanque, Walter de Zezé Barbeiro, Gilmar de Dezinho entre tantos outros.
Na volta para casa, preocupação em tirar o aspecto fubambento da pele, resultante daquela mistura de leite, óleo de motor e lama. Nova reunião na Calçada Alta definia o que se faria de noite. Os que estudavam apareciam em turnos vespertinos outros vivenciavam o dia inteiro as incansáveis brincadeiras, “Mãozo”, “Pé em Barra” e outras mais pesadas como “Estados Unidos” Nessa podia-se dar tapas bem forte na cara de quem sentar-se sem falar a palavra passe: Estados Unidos. A Calçada Alta pertencia à casa colonial de Helena de Senhor de Cazuza, apesar da barulheira, nos tolerava em seu histórico oitão.
Dali da Calçada alta a vista é privilegiada, o grupo entre brincadeiras contemplava a maravilhosa paisagem, de lá dava para ver o açude serpenteando distante, e as cadeias de montanhas que cercam Frei Paulo, Uma vista tão linda que inspira aos poetas e seresteiros, esses artistas sob a proteção do Senhor São Paulo mais tarde entrariam em cena, enquanto nós meninos enfadados, fartos de alegria, em sono pesado e profundo, sonhávamos inocentemente com novas aventuras do novo dia que nascia.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

“Meu maior patrimônio são os amigos”


Ele é genuinamente freipaulistano, um homem comedido e que ao longo de sua existência aprendeu como ninguém a cultivar amizades. Um comerciante sem avareza e muito atencioso com sua clientela. Assim é Zé Correia um homem dedicado ao trabalho e a família. Sua bodega na Praça Capitão João Tavares sempre foi um termômetro da política local. Trata homem, mulher e menino com o mesmo respeito. Ali um eclético grupo de amigos, por décadas se reúne e discute com muito bom humor, os fatos políticos locais e também estórias em torno da vida de cada um. A paixão pela política sempre esteve no sangue de Zé Correia, mas sua atuação sempre foi muito tímida, ele costuma ouvir muito mais do que falar. Talvez esta virtude seja o que atrai tantos amigos.
José Correia Dantas é filho de Joaquim Correia Dantas e Acila de Souza Dantas, seus pais eram proprietários de imóveis rurais um na Onça e outro próximo a cidade de Pinhão. Zé Correia quando jovem, era trabalhador e ajudava o pai a tocar os negócios da fazenda. Depois se casou em 1952, mas ficou viúvo e casou novamente, desse segundo casamento teve cinco filhos, outros cinco não se criaram, vindo a falecer. Assim que casou foi morar em Poço Verde, onde permaneceu por sete anos. Mas a esposa desenvolveu uma doença mental e por isso resolveu voltar a sua terra natal onde tinha o apoio da sua família e da família da esposa. Ele sempre a tratou com muito carinho. Em 1964 começou sua atividade comercial e até hoje ele mantém seu negocio, onde vende tudo do ramo de mercearia.
Zé Correia por muitos anos presidiu o diretório municipal da Arena, partido governista, mas nunca jamais foi um reacionário. Ele sempre foi um forte aliado político do prefeito João Teles da Costa, segundo ele o maior político que Frei Paulo já teve em todos os tempos, chegando a ocupar o cargo por quatro mandatos. Em 1970 assumiu como vice prefeito na gestão de João Teles. Mas sempre atuando de forma muito discreta. Da paixão pela política, lembra que por diversas vezes representou o prefeito em compromissos em outras cidades e não poupa elogios a João Teles como homem sério e dedicado a seu negócio, sendo um dos maiores pecuaristas de Frei Paulo. Segundo ele um homem muito rico e generoso. João Teles inclusive foi deputado estadual na década de 60 pela Arena.
Zé Correia disse que os tempos de hoje estão mudados, e Frei Paulo deu um grande salto na sua economia. Não se queixa de seus negócios não terem evoluído e de ter feito um grande patrimônio como supermercadista. “Estou feliz com a vida que levo, graças a Deus criei todos os filhos com meu trabalho e nunca me faltou o pão." Para esse freipaulistano, tão admirado pelos conterrâneos, seu maior patrimônio são seus amigos e cita alguns que fizeram história marcando presença quase que diariamente nas reuniões de sua bodega.
- Seu Alfredo, Artur Barbosa, João Dias, Epitácio, Zé de Marcolino, Fleory, Filinto, Dr. Rúbens, Bastos, Avelino, Justiniano entre tantos outros a maioria deles já no plano superior. Mas tem os atuais Mané de Lunga, Arnaldo do IBGE, Nilton da Energisa, Zé Tavares entre outros. Nessa roda de bate papo alegre e descontraído se conversa de tudo e o respeito sempre foi marca registrada. Zé Correia está com 80 anos e se mantém firme na sua luta. Ele é um homem que escreve uma história marcante de nossa querida Frei Paulo, sem qualquer alarde. Foram esses memoráveis homens de bem, entre outros aqui citados , com suas inteligentes e edificantes ações, que forjaram o povir de nossa terra.

domingo, 13 de maio de 2012

História musical de Frei Paulo


Caminhava pela praça e ouvia acordes de clarinetes. Dali da Bodega de Zé Correia já ouvia o doce murmúrio das horas se esvaindo sob aquele clima frio de ventos gelados vindos talvez da Serra da Miába que dos nossos arredores parecia tão perto, mas tão longe, chegando a ter cor azulada. Confesso que diversas vezes já pensei em ir a pé até o topo daquela misteriosa montanha. Tão visível para nós, parecendo algo inatingível. Todas as vezes que fui ao Tanque dos Cavalos para refrescantes mergulhos contemplava essa serra tão linda tornando a paisagem algo maravilhoso, talvez indescritível. Sob acordes de lindos dobrados. Mas já era noite e o destino mais interessante era ver João de Santa exercitando sua paciência em aulas de clarinete.
Na verdade eu nunca fui aluno da filarmônica, mas gostava muito de observar ele ensinando meninos e meninas a tocar seus instrumentos e logo vê-los desfilando garbosos, nas memoráveis apresentações da União Lira Paulistana. Homens como João de Santa são raríssimos, um poeta, historiador altamente envolvido com a arte, mas antes de tudo um belo exemplo de humildade. Era impressionante ver aquelas mãos calejadas das lidas de suas roças pelo dia, na noite tirar melodias lindíssimas no cavaquinho, no clarinete, no trombone. No trompete. Um multi-instrumentista de virtuosismo incomparável.
O seu nome é João Alves de Oliveira, esteve presente durante 54 anos na música freipauistana. Assumiu essa árdua missão das mãos do seu mestre Modesto Almeida, de saudosa memória. Ele deixou Frei Paulo levado pela família para o Rio de Janeiro com sua saúde em frangalhos, após a morte de sua esposa Carmozina Almeida.
João de Santa não era um simples professor, mas um mestre para muitas crianças e adolescentes de Frei Paulo que através dele não foram somente musicalizados, mas beberam na sua fonte de sabedoria, daí ser tão amado por muitas gerações. Um homem ligado a preceitos morais rígidos que na época condenava a droga que minava a juventude freipaulistana, o álcool. Homem de caráter irrepreensível, mas dotado de uma humildade de fazer inveja a qualquer um ser humano.
Uma vida de altos e baixos, de parcos recursos e dificuldades nunca foram obstáculos para seus ideais. Por isso cumpriu sua missão com muita responsabilidade; e em meio a partituras de grandes mestres, também ousou , tornando-se autor de peças belíssimas, dobrados espetaculares tocados com inspiração pelos seus alunos.
Todo aquele seu entusiasmo parece que contagiava a todos sem exceção. Frei Paulo tinha a melhor banda de música do estado, isso era uma realidade. Enquanto esse homem esteve à frente da União Lira Paulistana. Tendo atuado antes na Lira Sagrado Coração de Jesus fundada em 1902, sendo comandada pelo competente músico Francisco Alves de Carvalho Junior.
João de Santa realizou pesquisa junto à Banda de Itabaiana onde tudo foi devidamente documentado inclusive o salário do maestro 50 mil reis e mais a moradia. Segundo a pesquisa quatro anos mais tarde surgia a Lira Independente N. S. da Conceição fundada pelo senhor Conrado Tavares da Silva e comandada pelo competente maestro Jason Tavares da Silva, morto em Carira por José Boteco. Com a sua morte houve uma união das duas bandas dando origem a União Lira Paulistana. Sendo maestro Edeltrudes de Oliveira Teles. João de Santa assumiu a banda em 1953 e a dirigiu até 1958, passando o comando ao inesquecível maestro Genésio Pereira de Souza que permaneceu até 1970, voltando o comando para João de Santa.
Frei Paulo é uma cidade privilegiada , embalada pela música e poesia e com cenário paradisíaco com vista para a Serra da Miába , rica em ouro prata e ferro. Firme com a serra e reluzente como o ouro, é esse matuto inteligente e forte conhecido como João de Santa.Um mestre na arte musical e um poeta tarimbado em suas rimas perfeitas. Uma lenda vida.

terça-feira, 1 de maio de 2012

O cântico dos penitentes

Sou de um tempo em que a Sexta- Feira da Paixão era dia Santo mesmo. Em Frei Paulo nesse dia parava tudo e em clima de muito respeito e silêncio absoluto acompanhávamos a procissão de Senhor Morto cruzar as ruas e praças da cidade. Era um cortejo fúnebre. Na frente Seu Elpídeo solenemente conduzia a cruz, e um pouco atrás a imagem do Senhor Morto transportado em andor sob uma cobertura lilás. Ouvia-se o silêncio das pisadas. Aquele silêncio sepulcral, que era quebrado tão somente pela revolta das matracas. Era um clima de muita comoção e respeito, todos os bares fechavam e ninguém se atrevia a beber nem sequer um cálice de vinho. Era um espetáculo taciturno, mas revestido de muita beleza. Orações sem muito alarde. Pode-se dizer que o silêncio predominava nesse pomposo cortejo. Depois da procissão a imagem do senhor morto que durante todo o ano jazia por trás de um vitral, é depositada no altar. Até as dez da noite era visitada pelos fieis que beijavam os pés da imagem e do lado deixavam suas ofertas. Até mesmo o timbre da voz do padre João Lima mudava durante a celebração das missas nesse período. A fé e a religiosidade em Frei Paulo é algo inerente à própria cultura do povo. Dos povoados multidões se formavam para vivenciar esse período da páscoa. Com suas diversas manifestações sagradas e profanas. Muitos vinham se confessar e acompanhar os rituais sagrados da semana santa. A meia noite os penitentes adentravam a igreja gerando um grande suspense. Essa tradição em Frei Paulo sempre esteve muito viva e ligada ao sincretismo religioso local. Todos os anos, no período da Quaresma, entre a Quarta-feira de Cinzas e a Sexta-feira da Paixão, alguns fiéis realizam o ato da penitência. Esse grupo, chamado de Penitentes, veste-se com lençóis brancos e percorrem várias igrejas, cruzeiros e o cemitério da cidade, rezando pelas almas dos mortos. Os Penitentes são divididos em dois grupos: os Alimentadores de Alma, que fazem orações pelas almas e chacoalham um instrumento chamado de matraca; e os Disciplinadores, que durante o ato de penitência se martirizam com chicotes providos de lâminas na ponta, causando cortes por todo o corpo, derramando sangue, com o propósito de reduzir os pecados. Eles geralmente saiam da Serra Redonda e vários pontos eram visitados, o cemitério, o açude, os cruzeiros e capelinhas de diferentes pontos do município, em apenas uma noite eles percorriam tudo isso a pé. Muita gente até hoje tem muito medo dos penitentes. Mas poucos procuram entender o sentido de seus rituais. Em Frei Paulo alguns deturpavam essa tradição e iam ao encontro deles para provocar os religiosos e estes sempre reagiram com violência com esses baderneiros. Usando para isso seus chicotes purificadores isso também faz parte da tradição. A Procissão dos Penitentes que remonta à Idade Média é uma manifestação que tem se afirmado pelas suas singulares características, Os anos passam e essa tradição se torna cada vez mais viva e conta com a adesão de muitos jovens de Frei Paulo, estes sempre preocupados em manter o sigilo de seus rituais religiosos. Os penitentes se reúnem todos os anos para rezar e entoam cânticos tristes. Vestidos em suas mortalhas brancas trazem sempre na mão seus chicotes e cantando seus “benditos”; hora somente com suas vozes; hora acompanhado por tristes toques da zabumba e pelas ruidosas matracas. Esse sempre foi o solene, melancólico e respeitoso cântico dos penitentes

sábado, 28 de abril de 2012

O patriarca dos transportes

O empresário José Lauro Menezes Silva tem participação ativa na história de Frei Paulo. Com sua empresa que já atua no setor de transportes há mais de 50 anos, mudou a maneira de viajar dos sergipanos, em Frei Paulo não foi deferente. Uma existência devotada ao trabalho e ao desenvolvimento de Sergipe, assim foi a trajetória de José Lauro. Ele é o exemplo vivo de que sonhos podem virar realidade. Outro dia assisti a um pronunciamento do Pastor Virgílio, vice presidente nacional do PSC, no plenário da Assembléia Legislativa de Sergipe. Uma frase desse sábio pastor me chamou a atenção: "Deus não abençoa preguiçoso" Isso é a pura verdade, Deus ajuda a quem trabalha e José Lauro Menezes, desde a sua infância, foi um cidadão fascinado pelo trabalho e um obstinado perseguidor de seus ideais. Tudo começou há pouco mais de cinqüenta anos, quando o empresário Oviêdo Teixeira pai de sua esposa Gilza Teixeira, um inquieto investidor, teve a brilhante idéia de comprar três marinetes. Oviêdo queria que sua filha morasse em Aracaju e deixasse pra trás a vida bucólica que levava na Fazenda Maxixe em Riachuelo, propriedade de Zeca Barbosa pai de Lauro Menezes. Em 24 de fevereiro de 1960 surgia a Empresa Senhor do Bomfim. Lauro nunca abandonou sua atividade agropecuária. Mas dedicou-se de corpo e alma ao novo negócio. Mas foi com muito entusiasmo que abraçou a nova empreitada. Em pouco tempo realizou um panorama de investimentos que projetou a empresa para o futuro e esta cresceu, gerou muitos empregos e facilitou a vida de muita gente, tornando-se um marco do desenvolvimento e do progresso de Sergipe. Lembro de minha infância em Frei Paulo, nos fins dos anos 60, quando os viajantes acordavam às 4 horas da manhã para embarcar com destino a Aracaju no "Caminhão do Leite" uma perigosíssima aventura a que muitos ali se submetiam. Era uma viagem gratuita, mas muito perigosa. Agarrados em vasos de leite, estudantes partiam para estudar no Colégio Agrícola Beijamim Constant, às vezes sob forte chuva. Trilhando em alta velocidade as estradas de piçarra do sertão. Quantas vidas foram ceifadas nesta aventura inglória? Em contrapartida, era gratificante ver adentrando a nossa querida cidade, os modernos ônibus da Bomfim, muito embora a modernidade não tenha dado fim ao risco do carro do leite. Lembro a primeira vez que andei de ônibus, foi com meu pai, fomos para Carira visitar nossos parentes, minha tia Esmeralda, meu tio Ciro e meu avô paterno Totonho Pacífico. Sentei na primeira poltrona e me deliciava com o conforto. Com a belíssima paisagem que parecia um filme passado na janela do ônibus. Mesmo naquelas empoeiradas estradas, era uma viagem segura e confortável, naquele tempo ainda não havia asfalto. Foi o elevado tirocínio empresarial de José Lauro fator primordial para a modernização do transporte de passageiros em Sergipe, gradativamente ele foi ampliando linhas, ligando a capital a diversas cidades do interior e posteriormente a outros estados do Nordeste. Isso numa época em que o transporte se resumia a carroças puxadas por jumentos. E os desconfortáveis e perigosos caminhões pau de arara. Lauro Menezes preserva o vigor e a energia dos grandes guerreiros, um exemplo a ser seguido pelas novas gerações de empreendedores. Lauro da Bomfim é um empresário cuja importância para o desenvolvimento de Sergipe é imensurável. Pode-se dizer sem medo que sua vida se confunde com trabalho, honestidade e coragem. Um empresário que muito tem contribuido para o desenvolvimento econômico de Sergipe. A Bomfim tornou-se uma empresa que é referencia para o Nordeste, sua frota possui os melhores ônibus, e o gerenciamento está sempre atento ao avanço tecnológico do setor de transportes, agregando valores e investindo em tecnologia. Outra característica marcante de sua atuação empresarial é o investimento no ser humano, segundo o próprio empresário, o maior patrimônio da empresa. A Bomfim para atuar sempre na vanguarda não poupa investimentos nos seus funcionários. Esse sempre foi o nobre objetivo de José Lauro perseguido com o mesmo entusiasmo de sempre.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Dia de careta

“Cara de Gata, Cara de Gata” diz o animado refrão da marchinha carnavalesca , tocada no baile onde tantos risos e danças , talco e serpentina se misturavam nos confins da minha infância. O bar de Dário ficava lotado de foliões, bem em frente os casais flertando lá pelo coreto. De dia essa alegria que contagiava os freipaulistanos e visitantes. Chegava à noite, lá pelas 20 horas no melhor da noite, elas chegavam para meu desespero. Eu era uma criança medrosa que tremia nas bases quando me deparava com aquelas criaturas horripilantes , tenebrosas, chifrudas. Elas se comunicavam através de um ruído e aquele ruído era onomatopeicamente assim (phrriiinnn).“arrrrgh, arf, arf,uf, uuf. Fiuuuuuuuuu arrrgh, arf, arf, uf, uf, uf arrrrrrrrrrrrrhg! Uf!!” Chega ... As caretas para mim causavam um trauma. Eu me lembro quando certo dia sai do baile , e fui tenebrosamente assustado por uma delas. Olhos de fogo, cabeleira aloirada e eu ali imóvel , indefeso, vulnerável. Quantos anos faz isso? Depois eu mesmo virei uma careta, tão somente para superar esse medo. Mas toda vez que me vestia de careta, era desmascarado e humilhado. Olhavam pra mim e diziam olha quem é e já iam puxando a máscara, e tome-lhe safanão. Era uma grande humilhação. Costumavam fazer isso com caretas pequenas. Um dia me vesti diferente, como um verdadeiro capeta, vesti roupas pretas, pintei de piche a careta e fui para a rua com meu bando de caretas. Mudei até o caminhado e naquele dia assustei um monte de crianças. Senti-me de fato uma careta. O carnaval em Frei Paulo tinha essa tradição momesca que aos poucos foi sendo esquecida. Havia bandos enormes de caretas no carnaval de minha terra. Os grupos se reuniam na rua do monturo e eram muitos, Mechó, Penacho , Canguçu, Beto de Joaninha, Seu Moleza, Espigão, Bufa, Nanão, Mú, Cara Véia entre vários outros. As mães advertiam “vá dormir cedo menino, hoje é dia de careta” E as caretas faziam um espetáculo que antecedia o show da orquestra comandada pelos membros da Filarmônica. O Grêmio Sesquicentenário era tomado pelas lindas colombinas e aqueles beberrões a abrir alas no salão de baile. E haja talco e serpentina, de confete o chão virava tapete. (Segundo alguns estudiosos, a origem da festividade não faz parte do período carnavalesco, mas do Natal, quando dois Mateus de um reisado se embriagaram durante a apresentação e foram proibidos de participar da manifestação. Inconformados, eles vagaram fantasiados pelo município, fazendo barulho com um chocalho e inaugurando a brincadeira.) Mas o carnaval de hoje é bem diferente assim como foi diferente num passado ainda mais remoto e será bem diferente no futuro, afinal carnaval é sempre a mesma coisa só mudam as caretas. Zé Matos e Pedro de Elpídeo mandavam ver no trombone e a bateria impecável dos filhos de Elizeu, faziam do nosso carnaval em uma pequena cidade de interior , uma festa de pompa. Eram quatro dias de muita animação e brincadeiras insondáveis. Hoje quando vejo nosso carnaval, me dá vontade de chorar de tristeza, não que seja saudosista, sempre carnaval pra mim foi sinônimo do escárnio humano, mas essa alegria não me convence, acho definitivamente que envelheci, ou virei careta.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

O professor Tupinambá da Bahia

Na minha infância de menino travesso no sertão sergipano, convivi com figuras que muito bem poderiam povoar as páginas dos romances do genial Gabriel Garcia Marques, autor do best seller “Cem anos de solidão”. Eram tipos inesquecíveis . Meu pai era dono da Farmácia São Paulo em Frei Paulo. E ali ao meu lado, arrumava as caixas de remédio que um representante acabara de trazer, quando entrou na farmácia um sujeito muito esquisito , cabelos longos e negros, bigodão, olhos rodeados de infinitas pálpebras, vermelhos, indormidos. -Um envelope de Engov, por favor. Seu Bastos se dirigiu ao balcão e de dentro tirou o pedido do tal forasteiro e o entregou. Ele imediatamente começou a amassar o envelope transformando-o numa bolinha enquanto com olhar fixo pronunciou: -O Senhor tem condições nacionais e internacionais de me confiar esse remédio. Seu Bastos, com aquela fúria no olhar, passeou velozmente o palito de um lado a outro da boca e arrebatou de suas mãos os comprimidos e bradou um rotundo não. O tal homem sem camisa, aparentando ter lá seus 60 anos, seguiu em direção a pensão de D. Zefa, com aquele caminhado desengonçado cruzou a praça Capitão João Tavares. Achei-o engraçado e sai atrás dele. Na hora apareceu Geraldo de Mané Bonzinho e passamos a seguir o curioso estranho. Dirigiu-se a nós de forma amável e cortez, parecia um anjo, e nos convidou para um passeio em seu carro. Assim que sentamos no banco traseiro, ele arrastou com seu opala velho em alta velocidade na direção do Curral do Açougue, não parava de desferir tapas e mais tapas. (foram momentos de tensão e muito medo) Nosso choro não sensibilizou o facínora, que a toda velocidade rumava em direção a Carira. Ele se deliciava com a situação. Que sujeito mais esquisito. Por sorte, o carro faltou gasolina e ele foi lá mexer no motor. Já próximo à ponte do Rio Salgado. Eu e meu colega escapamos e voltamos a toda para a cidade. Isso aconteceu numa sexta-feira e sábado pela manhã no meio da feira lá estava ele cercado de gente incauta. Pregava ele com seu olhar místico, como os profetas do velho testamento, a pregar o apocalípse: "Eu sou o Professor Tupinambá da Bahia, passei duzentos anos na mata virgem comendo planta e raiz de pau". Pronunciava com profunda convicção essas palavras. O cara era um celerado, um louco, mas era criativo. Não faltava quem se dispusesse a pagar uma consulta onde ele procurava arrancar cada centavo dos pobres sertanejos, mediante mentiras criadas na hora, para cada situação. Hora dizia que a vítima estava sendo traído pela mulher. Por outra era o irmão que estava querendo lhe passar a perna na herança. O professor era um picareta de marca maior, um famoso vigarista, um salafrário e ladrão que tinha como profissão engabelar os coitados que caiam no seu conto. Dizia ele, a um agresteiro: “Não faça feira não para aquela infeliz, dê esse dinheirinho ao Professor Tupinambá que tudo vai ficar bem na sua vida. E num canto, se contorcia, fazia presepadas com as mãos e orações que pelo jeito deviam até falar mal de Deus. Esse famigerado Professor Tupinambá vivia pelas feiras do Nordeste enganando a um e a outro na sua vida de charlatanismo profissional. Talvez por isso, tinha a triste sina de ser um beberrão incorrigível. Por isso no auge da ressaca ia para as farmácias mendigar um comprimido de engov. Assim que acabava de atender um cliente, aquele pobre diabo ia direto para a vendinha e entornava um copo cheio de cachaça. Fumava desbragadamente cigarros da marca "Gaivota". Tinha na face, como que escrito que era um vigarista, mas mesmo assim, não faltava quem caísse no enredo de suas tramóias. No pescoço trazia vários colares do candomblé. Cabelos longos, negros em desalinho, barba por fazer. Um bigode que ele cuidadosamente enroscava nas pontas. Era branco, musculoso e ostentava um corpanzil corcundo, barrigudo e o rosto cheio de rugas. Sua voz lembrava o ronco de trovão, seu olhar traduzia uma constante sensação de desespero. Olhos injetados e se expressava gesticulando em demasia. Domingo bem cedinho, do alto falante da Matriz, ouvia-se a voz do Pe. Zezinho cantando "Estou pensando em Deus” enquanto aquela criatura diabólica, desta vez com uma nota de dez na mão, dirigiu-se a meu pai que abria a farmácia -O senhor tem condições nacionais e internacionais e a vista de me vender... - A você nem por um milhão, respondeu Seu Bastos, de cara amarrada!

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Um gigante do comércio sergipano

Vindo de uma prole numerosa, Oviêdo Teixeira iniciou-se no comércio, com toda humildade, varrendo o chão de uma loja de tecidos em Itabaiana. Depois passou a ser vendedor. Nesse emprego ele permaneceu por dez anos e aprendeu a arte de negociar. Nascido em 10 de abril de 1910, filho do casal João Teixeira e Maria São Pedro Teixeira. (D. Caçula). Em l929 reuniu as economias de sua mãe, algo em torno de 2.400 contos de reis e começou a trabalhar por conta própria. Na cidade de Ribeirópolis, naquela época, chamava-se Saco do Ribeiro ele começou com uma banca de tecidos na feira. Já na primeira semana, apurou 900 reis, então viu que o negócio era bom. Algum tempo depois, surgia a sua loja a Casa Teixeira, que no ano de 1939 aportara em Aracaju. Folheando o álbum de família desse ícone da história de Sergipe, é possível vê-lo elegantemente vestido na época que atuava como mascate, sempre impecável nas roupas da época, era Oviêdo, um batalhador, otimista por natureza. Um jovem empreendedor, que ousou romper as fronteiras do pequeno feudo e partir para negócios mais promissores. E assim fez o Sujeito, como era conhecido, pois a todos se dirigia com essa palavra dita sempre de forma carinhosa. O brilhante historiador Luis Antônio Barreto sobre ele escreveu: "Sabino Ribeiro, Bastos Coelho, José Alcides Leite, Constâncio Vieira, Heráclito Dantas, Pedro e Mamede Paes Mendonça, dentre outros incluindo Oviêdo Teixeira, tiveram oportunidade e venceram, sustentando a atividade produtiva, mesmo quando, o açúcar decaiu, o algodão quase sumiu do mercado, e o arroz do Baixo São Francisco e o gado deram sinais de declínio, empobrecendo dezenas de famílias ricas e poderosas" Se existe um sergipano do qual podemos nos orgulhar é esse tal Sujeito, um desbravador que com sua atuação desenvolvimentista, rompeu com a arcaica política coronelista da época, sendo alvo de perseguições econômicas e políticas. Mas, a sua obstinação não deixava espaço para abrir mão dos seus sonhos. E assim lutou obstinadamente. Foi ao Rio e São Paulo e estabeleceu uma rota de mercadorias para Sergipe, algumas importadas de preço sedutor e qualidade comprovada. Eu era pequeno, lá em Frei Paulo, mas ainda ecoa nos meus ouvidos o carro de alto-falante circulando na cidade, com a musiquinha: " Meu voto é de valor é Oviedo pra senador. Meu voto não tem segredo, pra senador é Oviedo. Eleitor da capital, eleitor do interior, Vamos votar em Oviedo para nosso senador..." Um dia na Praça da Feira no ano de 1966(ou seria na segunda derrota para o Senado nos anos 70) fomos surpreendidos pela decida de um helicóptero vermelho. Havia um vendedor de chapéu de palha, que ficou sem nenhum chapéu, com o vento forte provocado pela hélice da aeronave. Oviêdo desceu e com elegância seguiu a cumprimentar os eleitores na feira de Frei Paulo, onde o povo já nutria por ele profunda admiração. Parecia um sonho, ver aquele helicóptero, pousado ali bem na frente da casa de Seu Antônio de Germino, proprietário da Destilaria Imbira, o homem que trouxe água encanada pra Frei Paulo. Oviêdo não foi eleito senador, mas seu filho José Carlos Teixeira, visto em Frei Paulo como um mito, foi eleito deputado federal e teve excelente atuação em defesa do país De volta à aeronave seguiu, não sem antes acertar as contas com o homem dos chapéus, seu vôo foi para a cidade de Pedra Mole, onde o velho prefeito Laves o esperava. Um amigo a toda prova. Líder nato daquela gente, homem de muito brío. Era um dentre os grandes amigos do Sujeito. A trajetória desse empresário, é conhecida de todos os sergipanos, isso porque ele cresceu pela sua perseverança e dinamismo, entrou para história como um homem honesto, dedicado ao trabalho e a família. Em 1962 ano em que eu nasci Oviêdo já era dono de grandes empresas e sua família igualmente prosperou em outros setores da economia sergipana, tais como, a construção civil, através da Norcom, e transportes, através do sogro José Lauro Menezes da Bomfim. E do senador Lauro Antônio seu querido neto. Dava expediente diariamente na Cimavel concessionária Ford. Além disso, tinha também a Saboaria Celeste. Em 70, a Discar que era comandada pelo irmão Elpídeo e Carlos Lyra sogro. Além de toda essa atuação empresarial Oviêdo era um respeitado criador da raça Indubrasil, suas fazendas eram modelos de como é possível vencer no setor primário da economia. Isso o deixava muito feliz, A Fazenda Salgado em Frei Paulo é o maior exemplo disso. Lá nos finais de semana ele se refazia das mazelas do dia a dia atrás do balcão. Oviêdo era simples, brincalhão, amigueiro e também um homem muito responsável com seus negócios. Eleito deputado, teve uma atuação pautada na ética e na valorização dos anseios comunitários. Em 2010 foi comemorado o seu centenário e entre os depoimentos de parentes e amigos destacamos o de seu filho, o engenheiro Luis Teixeira, ele relata uma viagem à Terra Santa quando o seu pai fez amizade com um jovem punk árabe (é raríssimo punk por lá) depois de encontrá-lo numa loja de lembranças, o jovem se apaixonou pelo jeito simples e o sorriso do Sujeito. Um dia depois numa fila eles voltaram a se encontrar por acaso. Relata Luis, que foi emocionante a manifestação de alegria dos dois. Pareciam velhos amigos. Acho que o sujeito ali reencontrou sua origem cristã. Eu também tive o privilégio de gozar da amizade do Sujeito, sempre ia visitá-lo na sua concorrida mesa na Cimavel. Entre outras coisas pedia conselhos, pois também quero meu lugar ao sol. Outra vez, peguei com ele, uma carona de Aracaju para Frei Paulo, foram momentos inesquecíveis ele contava de sua vida e de sua luta naquelas terras. Um prazer, e uma honra, de ainda jovem beber naquela inesgotável fonte de sabedoria, afinal ali, ao meu lado, estava uma das mais importantes personalidades da vida sergipana do século XX. Oviêdo foi um homem filosófico, antenado com a modernidade ,cuidou para que cada filho tivesse seu vôo próprio e conseguiu. José Carlos Teixeira foi um político que marcou época em sua luta pela fundação do MDB (Na época a única trincheira de luta das oposições.) José Carlos Teixeira nunca se preocupou em ganhar dinheiro, e aquele que era para ser o sucessor do grande exemplo de trabalho da família Teixeira, prosperou no campo das idéias. Tornou-se um fomentador insaciável da democracia brasileira. Os filhos Tarcisio e Luis tocaram com muita competência a Construtora Norcom e a transformaram numa gigante do setor. João na Cimavel segurou a peteca e até hoje mantém liderança em vendas da marca Ford. Enfim, Oviêdo vivia em função da família, para ele mais importante do que a pátria. Era com um ar lacônico que ele falava de D. Alda, a zelosa mãe dos seus filhos que faleceu em 1979 deixando uma grande lacuna em sua vida. Ela o acompanhava nas campanhas políticas em Frei Paulo. Ele morreu em 2001 foi uma perda irreparável para Sergipe. Mas uma coisa é certa, o Oviêdo Teixeira inspira até hoje as novas gerações os jovens empreendedores, e se for para falar em desenvolvimento e progresso em Sergipe haveremos de reconhecer que a sua vida foi uma incessante luta pelo desenvolvimento econômico do seu estado. Um verdadeiro gigante do comércio sergipano. Frases de sua autoria: " Triste do homem que não tem roda familiar" "A pessoa que diz um sim sem carinho , está negando . É melhor dizer não" "Na nossa vida não há problema sem solução" "Ave Maria , quase tive uma vertigem!( Palavra dita logo após um vendedor ter dito o preço de uma peça)" Após 38 anos de comércio de tecidos, sai do ramo. “Há momentos na vida que não podemos titubear” " O trabalho dá saúde e inteligência"

terça-feira, 24 de abril de 2012

Grossura x Lesma de pau

Quem nunca sonhou ser um jogador de futebol? Pois eu nunca sonhei, apesar da paixão platônica pela bola, sempre tive plena consciência de minhas limitações quando se trata de habilidade com a pelota. Na minha infância em Frei Paulo sempre fui o dono da bola e escalado para jogar no gol. Isso gerou em mim uma profunda frustração e por essa razão, há muito tempo não jogo bola, nem no sonho. Mas essa semana, joguei no pesadelo. Acho que exagerei um pouco no jantar e quando me envolvi nos braços de Morfeu, no mais profundo sono, estava já em campo. Era uma partida muito estranha. Minha irmã Erta, era a minha técnica e com a simpatia que lhe é peculiar, foi logo sentenciando. "Prepare-se para perder. você está na final da copa que vai eleger o pior jogador do mundo" Eu? Olhei para os lados e a torcida era um bando de zumbis enfurecidos, jogavam tomates podres e toda sorte de porcaria em mim. O campo tinha as dimensões de uma quadra, uma paredinha e tela. Do lado direito a torcida do meu adversário o Lesma de Pau. Do lado esquerdo a minha torcida que gritava com vigor: "Grossura, Grossura". Onde diabos me arrumaram esse apelido? Perguntei à técnica porque eles torciam por mim, um perna de pau contumaz? Ela foi curta e grossa: “Eles eram torcedores descontentes com o Lesma de Pau e que revoltados torceriam por qualquer um que estivesse ali, por pior que fosse”. Minha torcida parecia bem maior. O juiz era um cara gordo, canecão de cerveja na mão, olhar de durão usava uma camisa puída do Vasco. Pelo seu bigode parecia um português bem ordinário. O apito era uma mine flauta, mas tinha o som de buzina de trem. Minha técnica disse que pesquisou o adversário, Lesma de Pau por muito foi considerado um crack, jogava no CSU, sempre na reserva, mas o alcoolismo o afastou dos campos e passou a jogar buraco. Virou um fracassado, tudo que lhe restou foram velhas e amareladas fotos dos seus tempo áureos. O juiz apitou fomos para o centro do campo, comecei a me aquecer dando pique no lugar e flexão, igual ao Coalhada, foi quando ouvi um estalo. Aíiiiii foi o meu menisco. Chamaram o massagista, quando o negão que lembrava o Geraldão entrou correndo com a maca na mão, fiquei bom na mesma hora. E saí correndo em direção à zaga e comecei a me aquecer. Lembrei de quando era criança e vivia sonhando em ser um jogador profissional, cheguei a tentar entrar no juvenil do Paulistano; foi um vexame o meu teste. Na hora das embaixadinhas só dei uma. E outra na segunda e última chance. Pedro de Elpídio me disse: “sai pra lá seu “perna de pau” Quando o jogo começou vi a bola rolar com desenvoltura nos pés, já não tão hábeis do Lesma, vi em seguida a pelota escapulir na minha direção na altura ideal para soltar aquele canhão. Mas quando chutei com toda força parecia que tinha chutado uma bola de assopro, a bola foi para o lado batendo na parede e voltando ao campo adversário. Olhei direito a pelota no centro do campo e vi a marca "canarinho" e das branquinhas, ninguém merece. O jogo todo só dava isso, os goleiros dormiam o tempo todo em suas rede armadas nas traves. A bola era muito leve por isso nem eu nem o Lesma, conseguia uma finalização, tudo ia parar na parede. O primeiro tempo acabou zero a zero. Fui para o vestiário ouvir os xingamentos de minha técnica. Ainda antes de voltar a campo o repórter Pingo de Coalhada me perguntou sobre o jogo. Eu falava como um jogador profissional cuspia a cada três palavras e disse que iria levantar a cabeça e sair com um resultado positivo. Numa mesinha ao lado destinado à crônica esportiva. O comentarista Wellington Golias, o diabinho, de rabinho, chifrinho e tudo nos olhava com desdém, e fazia um efusivo comentário: "passes perfeitos e sincronizados" "devoluções precisas" por fim arrematou: “a parede foi a maior figura em campo em campo”. O segundo tempo prosseguiu com um festival de micos e quixotadas. Ainda bem que acordei antes do fim do jogo.

Natal em Alagadiço

Era uma grande alegria quando via papai tirar o jeep da garagem e passar pela praça buzinando. Largava a bricadeira rotineira e feliz da vida ia com ele para a festa de natal de Alagadiço. Um povoado da cidade de Frei Paulo que fica a cerca de 7 km da sede do município. À noite íamos vagarosamente pela estrada esburacada e escura na direção de Carira, mais um pouco depois da ponte do Rio Salgado, avistávamos um mata-burro era a entrada para Alagadiço, uma estradinha estreita, esburacada e cheia de ladeiras, mais na frente outro mata-burro quando o carro cruzava e vibrava, era um sinal que já estávamos chegando. Naquele tempo, não havia luz elétrica, Alagadiço se resumia a uma grande praça cheia de casas simples e no centro uma igrejinha branca onde a comemoração ganhava um caráter cultural e religioso. Em todas as partes do mundo o natal é comemorado no dia 25 de dezembro, mas em Alagadiço contrariando o calendário cristão, a festa acontecia no início de janeiro. A noite, essa praça ficava totalmente lotada de gente, vinda de outras cidades, Pinhão, Pedra Mole, Ribeirólis, Carira, Itabaiana e de propriedades rurais da redondeza. Muitos matutos com seus melhores trajes passeavam e assistiam à comemoração do natal. Muitas barracas armadas vendiam o tradicional arroz com galinha, era galinha de capoeira de verdade, com um tempero caseiro feito com dedicação pelas senhoras tarimbadas no assunto. Grandes caldeirões com guloseimas diversas, arroz doce, mugunzá e outras iguarias. Os bares ficavam lotados de gente bebendo e comendo seus tira-gostos. Na estrada pouco antes de chegar à praça havia um grande bar onde um animado forró atraia muita gente e a diversão rolava até amanhecer o dia. Parque com barcas e trivolovi e as bancas de jogos de cartela, e suas premiações de goiabada e sardinha, tudo iluminado com luz de candeeiro. Era muito divertido. As crianças brincavam na escuridão e os adultos aproveitavam para namorar no escurinho da festa. Todos gostavam e ficavam muito felizes. Olhava para o céu estrelado e dava para ver até as nebulosas, como dizia Sergio de Zé Pequeno: “No escuro as intenções são mais claras” Meu pai, Seu Bastos não perdia essa festa, por uma razão particular, todo natal em Alagadiço, uma banda de pífanos circulava na praça e os moradores acompanhavam dançando e fazendo preces. O cortejo circulava pela festa e depois adentrava a igreja sob o toque das zabumbas e dos afinados pífanos. Tocados por experientes velhinhos, que a todo instante, rodopiavam em perfeita sincronia, com suas coloridíssimas indumentárias folclóricas. Essa tradição, atraia muitos visitantes. Gente do Catuabo, Serras Preta, Serra Redonda, Mocambo e principalmente de Frei Paulo, iam para Alagadiço nesse dia tão somente para assistir a esse espetáculo cultural de encher os olhos. O natal de Alagadiço, sempre foi o mais animados da região, e nesse dia, era certa a presença do prefeito municipal e dos vereadores participando da procissão e assistindo a celebração da santa missa. Papai tinha muitos amigos em Alagadiço, e após a missa, sentava nas portas onde havia muitas cadeiras e entravam pela madrugada em conversas divertidíssimas, brincando na praça até altas horas eu só ouvia as gargalhadas. Era muito bom o natal de Alagadiço na minha infância. Já participei de muitos naquele lugar marcado por incríveis histórias do cangaço.

domingo, 22 de abril de 2012

Um magistrado apaixonado por educação

Se existe um nome, que merece todo o reconhecimento do povo freipaulistano, este o do juiz de direito Thiers Gonçalves de Santana, não só pelos valorosos serviços prestados a nossa comunidade, mas, sobretudo pela sua abnegação no sentido de valorizar a educação em Frei Paulo. Thiers amou esse torrão e nos anos que comandou a comarca de Frei Paulo, deixou um legado de obras e exemplos humanitários na sua ilibada atuação judicial. Ele realmente enobreceu o Poder Judiciário tomando posições firmes numa época que os coronéis queriam interferir nas decisões, agiu com imparcialidade e coragem fazendo justiça para nossa gente. Assim que chegou a Frei Paulo, não havia nem sequer um local para exercer sua função, então alugou uma casa ali na ladeira do Tanque dos Cavalos e passou a funcionar como fórum improvisado. Nos dias da semana não ficava ocioso, e por sua sede de compartilhar o saber, dava aulas como voluntário no Educandário Imaculada Conceição e no Ginásio Cônego José Antonio Leal Madeira. Aliás, ele que foi o primeiro presidente da CNEG – Campanha Nacional de Educandários Gratuitos, tendo permanecido à frente desse movimento cívico por cerca de dez anos, tempo em que fundou, no interior do Estado, cerca de vinte ginásios públicos, abrindo extraordinária oportunidade à juventude do interior sergipano, que não possuía condições econômicas de se deslocar à Capital do Estado para promover seus estudos. Vendo a estrutura precária das instalações da casa da justiça, Dr. Thiers foi ao prefeito e conseguiu a doação de um terreno amplo ali na travessa que liga a Praça da Matriz à Praça Capitão João Tavares e naquele local iniciou as obras do fórum da cidade de Frei Paulo. Uma obra de fôlego para a época. Usou seu prestígio e com o governador Lourival Batista conseguiu os recursos necessários para a execução de tão importante obra. Foram anos de luta até ficar pronto, então quiseram homenageá-lo, colocando naquele fórum o seu nome, mas ele era uma pessoa que trabalhava nos bastidores e não aceitou a homenagem. Foi ele também que construiu o fórum de Itabaianinha. Então quiseram colocar o nome do governador, mas ele também não aceitou, preferiu prestigiar o judiciário determinando o nome do primeiro juiz de Frei Paulo, Dr. Flávio da Rosa Melo. Era um homem justo, de decisão, que nunca aceitava imposições, por isso muitas vezes contrariou os poderosos coronéis, que queriam se impor pela força e pelo prestígio político. Era por essa postura que era muito admirado pelos homens de bem de nossa cidade. Antes da construção desse bem estruturado fórum, Dr. Thieres despachava numa casa alugada. Naquela época, para que os nordestinos, em plena seca, abandonassem seu torrão, era necessário uma ordem judicial. Portanto era comum, encontrar o meretíssimo na praça da matriz inspecionando caminhões, e assistindo a cena triste das famílias deixando a terra natal, para se aventurar no sul do país. Ali ele presenciava mulheres, meninos e homens aflitos esperando tão somente sua canetada, para seguir na imprevisível e sofrida viagem para São Paulo. Aquilo que a música ”A triste partida” retrata tão bem na voz do inesquecível Luis Gonzaga: “Setembro passou Outubro e novembro Já estamos em dezembro Meu Deus que há de nós. Assim fala o pobre do seco Nordeste Com medo da peste da fome feroz” Era aos prantos que Dr. Thieres assinava a ordem autorizando a triste partida, muitas vezes as suas lágrimas chancelavam aquela triste realidade da pobre gente sertaneja. Um homem de senso humanitário e de nobreza de caráter, raríssimo nos dias de hoje. Assim era o Dr. Thiers. Em reconhecimento aos relevantes serviços prestados à justiça de Sergipe, o desembargador Cláudio Dinart Déda, determinou que o fórum da cidade de Cedro de São João, levasse o seu nome, um reconhecimento póstumo a uma personalidade que venceu na vida pelo estudo e esforço próprio, vindo de origem humilde. Muito bem falou sobre ele, o seu filho, o promotor Jorge Murilo Seixas de Santana: “O nome do homenageado, ora registrado perenemente pelo Tribunal Regional Eleitoral na fachada deste Fórum serve de registro para as gerações vindouras como exemplo de homem público, cidadão, pai e amigo, que, apesar de sua origem humilde, venceu as vicissitudes da vida, conseguindo galgar altos postos na Justiça Sergipana, pela via do estudo e esforço pessoais.” Portanto, parafraseando feliz expressão do renomado processualista José Carlos Barbosa Moreira, em rompante lírico, pode-se afirmar que Thiers Gonçalves de Santana, “antes de abrir os códigos, já tinha impressas na sua alma outras marcas; já havia afinado o seu diapasão interior pelo som de fontes frescas, de sinos longínquos e do sopro da vida, incorporado à palheta espiritual todos os entretons da natureza e, enfim, aprendido que a riqueza da realidade sempre supera a rigidez dos conceitos”, humanizando-os, em sua profícua atividade profissional. A cidade de Frei Paulo e sua gente se orgulham de homens dignos como ele, que contribuíram de forma decisiva para a educação e a justiça em nossa cidade. Thiers deixou um exemplo maravilhoso para as futuras gerações.

sábado, 21 de abril de 2012

Um choque cultural

Poucos acreditavam que iriam asfaltar a estrada que corta Frei Paulo, a conhecida BR 235, mas um dia, o que era apenas um sonho começou a virar realidade. A cidade sofreu um choque cultural sem precedentes. De uma hora para outra fora invadida por homens e máquinas causando uma mudança radical na vida dos freipaulistanos. O escritório da construtora Odebrecht ficava bem atrás do cemitério. Com a chegada de centenas de novos moradores vindos de diferentes pontos do Brasil, instalou-se uma onda de euforia e deslumbramento para o comércio local que passou a faturar mais. Por outro lado as moças da cidade passaram a se apaixonar pelos visitantes. Muitas delas, cairam na lábia e perderam sua virgindade, com peões corredores de trecho que sumiram, do mesmo jeito que apareram na pequena e bucólica província. Foi uma total subversão dos valores culturais locais. Se por um lado foi ruim, por outro foi muito bom, alguns dos peões estabeleceram-se de forma definitiva na cidade. Tudo começou com a chegada de uma subsidiária chamada Comprol, que era de Recife e fazia os trabalhos de topografia. A turma ficou em uma república bem em frente a minha casa na Rua Floriano Peixoto, antigo Beco do Talho. Na casa que pertencia a Ana e Tonho de Dalila, o casal naquele período haviam se mudado para Aracaju. A casa sítio de Seu Luizinho na Avenida José da Cunha, também fora alugada para acomodar os trabalhadores. Foi um tempo muito interessante, e eu me tornei um piolho de cabine, passava o dia nas caçambas pra cima e pra baixo, correndo trechos da estrada, assisti do começo ao fim, e fiz muitas amizades com os nossos visitantes. Havia os que pilotavam tratores muito grandes, conhecidos como Moto Scraper, responsáveis pela terraplenagem, eram gigantes empurrados pelos enormes tratores D-8 Caterpillar. Passei a entender de estradas como ninguém. Por um bom tempo, alimentei a esperança de me tornar engenheiro civil e viver a vida como aqueles peões, construindo estradas por esse Brasil afora. Mas quando descobri que engenharia estava intrinsecamente ligada à matemática, desisti. Lembro de cada um dos amigos da época: Expedito, Honorato, Paulo Mecânico, Luis Caçambeiro, Zé Priquitinho, apontador, João Come Longe, Rasga Magra, Jorge Bafafá, Costinha, Coutinho irmão de Cisso, Job, Zé Costa e Belos Olhos. Este usava um olho azul postiço que quando caia na lama ele sempre dava um jeito de recolocar. Havia também o casal Guerrinha e Vandica, ela era uma velha índia, bem magra. Já eram conhecidos por fornecer alimentação aos trabalhadores em outras obras por esse Brasil afora. Eles montaram um restaurante para servir a peãozada vizinho à casa paroquial. Guerrinha morreu em Frei Paulo, ele fumava muito e isso o levou para a cova. Vi seu atestado de óbito e a causa mortis apontava: insuficiência respiratória. Naquele tempo, eu também fumava, era comum entre os garotos de minha geração fumar cigarro, não se tinha conhecimento dos malefícios do cigarro e as propagandas na televisão eram um apelo quase irresistível. Foi um tempo de prosperidade para a economia de Frei Paulo, pois a construção da estrada gerou muitos empregos para os freipaulistanos e incrementou as vendas no comércio local. Mas muitos perderam a vida nos inevitáveis acidentes que aconteciam envolvendo máquinas e caminhões, foram muitos. Anos se passaram e a estrada foi concluída, e toda aquela gente estranha foi embora, cada um tomou seu rumo. A rotina foi retomada aos poucos, quase sem ninguém perceber. De obras faraônicas como aquela, ninguém mais na cidade ouviu falar. A calmaria foi aos poucos sendo restabelecida, com Bigodão da Energipe, sendo responsável pelo fornecimento de energia elétrica e Zé Vermelho da Deso, pelo abastecimento de água da cidade. Aos poucos tudo voltou à sua normalidade.