segunda-feira, 26 de março de 2012

O bacharel


Houve um tempo em Sergipe que os delegados das cidades eram sargentos ou tenentes da Polícia Militar. Eles tinham o ar de autoridade e ficavam nesses cargos apoiados geralmente pelos prefeitos. Em Frei Paulo também era assim. O cargo de delegado sempre impõe respeito e quem não andava na linha, já sabia ia ter que se entender com o delegado. E a missão de conduzir o meliante até a delegacia era do Praça Edson. Este nunca andou armado, e na hora de prender alguém agia como um verdadeiro diplomata fardado. “Você não vai ser preso, você vai apenas conversar com o delegado e vai comigo” dizia o praça ao intimado e com todo jeitinho, convencia o sujeito a ir à delegacia. “Vá na frente pra ninguém saber” Dele nunca se viu ou soube de um gesto de violência, pelo contrário, quando o sujeito tava preso ia lá na cela, levava um cigarrinho, dava conselho e intercedia em seu favor para livrá-lo dos rigores da lei.
Mas um dia esse clima bucólico de boa convivência da polícia com a comunidade foi quebrado pela chegada do Bacharel. Esse camarada foi o primeiro, formado em direito a exercer a função de delegado em Frei Paulo. A banda de música foi receber a autoridade e até mesmo os alunos do grupo escolar ficaram ao sol aguardando a oportunidade de dar as boas vindas ao ilustre Bacharel. Esse clima de cordialidade durou muito pouco, logo ele começou sua sanha de arbitrariedades na cidade. Seu nome era temido e soava como um terror para a população. Todos temiam ao Bacharel. Num bar ou em qualquer lugar que ele chegasse todos saiam de fininho.
O sujeito era um poço de arrogância, tinha os bracinhos meio que aleijados e com eles gostava de bater. era muito ousado e metido a valente, devidamente acompanhado por dois soldados. Sua fama de valente e acima da lei criava medo nos desordeiros. Por um bom período a cidade que já era calma ficou ainda mais pacata com os rigores ditados pelo temido bacharel. Ele era um cara muito boçal e adorava soltar piadinhas de mau gosto com quem com ele conversava. Achava-se o supra-sumo da inteligência. Brabo como sempre, desfilava com seu caminhado meio esquisito. mas cheio de empáfia.
Até que um belo dia, ou melhor, em uma bela noite, no Clube de Frei Paulo, quando a nata da sociedade estava reunida, o tal bacharel, vestido em camisa de seda, foi tirar satisfação com Ranulfo."O senhor está falando alto demais" disse o Bacharel. Ranulfo, um sujeito muito bacana e bem conceituado na cidade, era também muito forte, braços acostumados com a lida na sua fazenda e homem corajoso, decidido. Quando bebia umas duas dava ruidosas gargalhadas e falava alto. Pegou o tal bacharel pela abertura, e arremessou sobre as mesas, como que em desenho animado. Este depois de tão duro golpe, saiu de fininho, desmoralizado, até hoje não deu mais com seus costados em Frei Paulo. Depois dessa atitude, Ranulfo foi efusivamente cumprimentado em Frei Paulo, até mesmo pelo prefeito, ninguém agüentava mais o tal bacharel.

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