quarta-feira, 14 de março de 2012

A pantera negra dos sertões


Natal pelo que todos sabem, cai no dia 25 de dezembro, data máxima da cristandade comemorada em todo mundo. Mas quando eu era criança, não perdia a festa de natal de Alagadiço que acontecia lá para o dia 7 de janeiro. Alagadiço é um povoado de Frei Paulo muito famoso pela sua estreita ligação com o cangaço. Terra do sertão brabo de homens destemidos, foram eles que deram cabo ao cangaceiro Zé Baiano, o terrível facínora que por décadas aterrorizou os sergipanos daquela região. Ele era conhecido como “A pantera negra dos sertões”, seu tipo físico lembra um antropóide. Era um sujeito mau, traiçoeiro e desalmado, sempre disposto a agir covardemente atacando os comerciantes locais, caixeiros viajantes, matando-os impiedosamente. Ele foi morto por um grupo liderado por Tonho de Chiquinho, coiteiro de Lampião que armou uma emboscada para liquidar o bandido e seus comparsas. Lampião ainda voltou a Frei Paulo para vingar a morte do amigo, mas preferiu fugir para a Bahia, ao saber que havia uma barricada com homens fortemente armados para impedir sua entrada na cidade.
O Padre Madeira, pároco que tinha muita coragem e até estoicismo, colocou na igreja um caixão vazio, e por isso Lampião não invadiu a cidade naquela noite, tempo suficiente para armar os homens e entrincheirar para rechaçar um possível ataque dos cangaceiros; eles logo souberam que tinha até uma ronqueira (pequeno canhão). Muitas vezes o padre Madeira cruzou com Zé Baiano e seu bando. Numa ocasião, foi abordado pelo facínora na porteira de uma fazenda. O padre foi logo dizendo: “Será que não se pode mais pregar o evangelho neste sertão?” O bandido abriu a porteira e beijou a sua mão, “Sua abenção, Padre Madeira”. Ele não respondeu, tirou do alforje um lenço e limpou a baba do maldito e seguiu montado no seu jegue , ao se distanciar um pouco resmungos: “ Vai para os diabos”
Zé Baiano era um sujeito perverso, conhecido como o ferrador de mulheres, muitas foram cruelmente ferradas no rosto com a marca JB, ele trazia um ódio profundo no peito e raiva das mulheres por conta de uma traição que recebeu de uma de suas namoradas. O seu nome era Lídia, flagrada em adultério foi morta por ele a pauladas.
Em Alagadiço, existe um museu, onde objetos pessoais dos cangaceiros são expostos ao público. Foi criado pelo escritor Antônio Porfírio, que inclusive já publicou um livro onde relata a vida de Zé Baiano. Na hora de sua morte ainda tentou negociar, oferecendo vinte contos de reis para que seus vingadores o deixassem ir embora, mas estes, lembrando-se de suas atrocidades; praticadas contra homens de bem da região desferiram contra o bandido, vários golpes de punhal. “Matou-me agora” disse Zé Baiano ao sentir a terceira punhalada e completou:” morreu o homi de Sergipe”. Isso aconteceu em 7 de julho de 1936, ao fim da ação quatro cangaceiros estavam aniquilados ali na caatinga de Lagoa Nova em Alagadiço. Morreram além de Zé Baiano, Demudato, Chico Peste e Acelino.

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