domingo, 1 de abril de 2012

Sábado no Cine São Jorge


O cine São Jorge era a casa mais alegre de Frei Paulo. Ali assisti a muitos filmes. Às vezes me ponho a pensar de como eram gratificantes aqueles tempos. Vem logo à mente o cheirinho da pipoca que era vendida ali na porta por Manoel. Era uma pipoca que tinha um sabor especial. Quando não se tinha dinheiro ele nos dava um pouco numa canequinha e saia-se feliz da vida com a pipoca quentinha nas duas mãos. Os anos se passaram e Manoel passou a ser dono do cinema. Lembro dos cartazes bem na frente do cinema, no hall de entrada . O dono era Vado, depois Aguinaldo de Senhor de Cazuza e por último Manoel de Casaca Preta. Vado ficava, às vezes, na entrada recolhendo os ingressos e colocando numa caixa de vidro.
Do outro lado, bem em frente ao cinema ficava a casa das Eulinas, ali as balas artesanais, tão gostosas, eram vendidas em cordas cuidadosamente enrolada em papel manteiga. Balas de leite, banana e mel que derretiam na boca enquanto passavam os trailers, antes de começar a seção. Na casa era um entra e sai permanente de meninos e meninas e elas sorridentes, nos atendia entre bibelôs e rococós. Uma das irmãs, Eulina Pequena era a mais séria. Muito amiga de minha avó D. Mizinha, um dia escreveu algo muito bonito sobre minha querida avó. Na sala havia um lindo relógio antigo, onde parávamos no tempo só para observar quando soavam as badaladas, era simplesmente encantador.
Nada se compara às diversões do cinema, as películas não eram por nós assistidas, eram vividas intensamente. Quando passava os de Karatê, protagonizados pelo imortal Bruce Lee, a molecada sai pela rua desferindo golpes de Karatê pelo ar. As impagáveis comédias de Mazzaropi provocavam longos risos que era um balsamo para a alma. Outro gênero preferido era o faroeste, com destaque para “O dólar furado” e “Se encontrar Sartana reze por sua morte”. Sem esquecer evidentemente dos westerns de Giuliano Gema e Django. Policiais como 007 e os que tinham o ator principal Charles Bronson também atraiam seu público.
O auditório era bem amplo com cadeiras confortáveis em madeira envernizada e a tela bem grande nos dava a impressão de estar vivendo as cenas. Na parte de cima ficava a sala de projeção e mais cadeiras. Olhando pelo buraco da fechadura eu via lá dentro, Seu Valdomiro de óculos de grau, compenetrado comandando aquela grande parafernália, rebobinando as fitas e passando com as latas onde estavam os filmes. Com a mesma dedicação dava-se ao fabrico de móveis numa oficina do mesmo patrão na avenida, esquina com o Beco do Graco durante toda a semana. A exibição durava em média duas horas e era interrompida a cada uma hora, acendia-se as luzes enquanto trocavam o rolo no projetor. Quando o filme era maçante, ouvia-se no meio da exibição gritos do tipo: “Quero meu dinheiro”. E cuidado redobrado para não pegar chiclete nos cabelos.
O cine São Jorge às vezes dava lugar a apresentações artísticas, ali eu já assisti diversos shows, entre os quais: Siri do Forró, Valdick Soriano, Luis Gonzaga entre tantos outros. Apresentações de teatro era também certeza de casa cheia. Os programas de auditório também aconteciam ali, eram comandados por Luis Trindade sob os acordes da orquestra Brasa 10. E também o programa Reinaldo Moura num oferecimento de Farmácia São Paulo e ... Zé Totonho. As versões locais dos programas de auditório com apresentações de calouros, eram comandadas por Pedro de Elpídio e os prêmios para os vencedores. Ah! os prêmios: Latas de goiabada, sardinha etc. Duvido que outras cidades interionas de Sergipe tenham vivenciado tamanha efervescência cultural.

2 comentários:

  1. Já cantei em programa de calouro (no cinema) fazendo dupla com Marta Suzana, num programa comandado por Pedro de Elpídio. Nunca esqueci! cantamos "era um garoto, que como eu, amava os beatles e os rolling stones"...isso nos rendeu um pacote de café, como preêmio...rs

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  2. Os Stones são o café e os Beatles o açucar.

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