terça-feira, 24 de abril de 2012

Natal em Alagadiço

Era uma grande alegria quando via papai tirar o jeep da garagem e passar pela praça buzinando. Largava a bricadeira rotineira e feliz da vida ia com ele para a festa de natal de Alagadiço. Um povoado da cidade de Frei Paulo que fica a cerca de 7 km da sede do município. À noite íamos vagarosamente pela estrada esburacada e escura na direção de Carira, mais um pouco depois da ponte do Rio Salgado, avistávamos um mata-burro era a entrada para Alagadiço, uma estradinha estreita, esburacada e cheia de ladeiras, mais na frente outro mata-burro quando o carro cruzava e vibrava, era um sinal que já estávamos chegando. Naquele tempo, não havia luz elétrica, Alagadiço se resumia a uma grande praça cheia de casas simples e no centro uma igrejinha branca onde a comemoração ganhava um caráter cultural e religioso. Em todas as partes do mundo o natal é comemorado no dia 25 de dezembro, mas em Alagadiço contrariando o calendário cristão, a festa acontecia no início de janeiro. A noite, essa praça ficava totalmente lotada de gente, vinda de outras cidades, Pinhão, Pedra Mole, Ribeirólis, Carira, Itabaiana e de propriedades rurais da redondeza. Muitos matutos com seus melhores trajes passeavam e assistiam à comemoração do natal. Muitas barracas armadas vendiam o tradicional arroz com galinha, era galinha de capoeira de verdade, com um tempero caseiro feito com dedicação pelas senhoras tarimbadas no assunto. Grandes caldeirões com guloseimas diversas, arroz doce, mugunzá e outras iguarias. Os bares ficavam lotados de gente bebendo e comendo seus tira-gostos. Na estrada pouco antes de chegar à praça havia um grande bar onde um animado forró atraia muita gente e a diversão rolava até amanhecer o dia. Parque com barcas e trivolovi e as bancas de jogos de cartela, e suas premiações de goiabada e sardinha, tudo iluminado com luz de candeeiro. Era muito divertido. As crianças brincavam na escuridão e os adultos aproveitavam para namorar no escurinho da festa. Todos gostavam e ficavam muito felizes. Olhava para o céu estrelado e dava para ver até as nebulosas, como dizia Sergio de Zé Pequeno: “No escuro as intenções são mais claras” Meu pai, Seu Bastos não perdia essa festa, por uma razão particular, todo natal em Alagadiço, uma banda de pífanos circulava na praça e os moradores acompanhavam dançando e fazendo preces. O cortejo circulava pela festa e depois adentrava a igreja sob o toque das zabumbas e dos afinados pífanos. Tocados por experientes velhinhos, que a todo instante, rodopiavam em perfeita sincronia, com suas coloridíssimas indumentárias folclóricas. Essa tradição, atraia muitos visitantes. Gente do Catuabo, Serras Preta, Serra Redonda, Mocambo e principalmente de Frei Paulo, iam para Alagadiço nesse dia tão somente para assistir a esse espetáculo cultural de encher os olhos. O natal de Alagadiço, sempre foi o mais animados da região, e nesse dia, era certa a presença do prefeito municipal e dos vereadores participando da procissão e assistindo a celebração da santa missa. Papai tinha muitos amigos em Alagadiço, e após a missa, sentava nas portas onde havia muitas cadeiras e entravam pela madrugada em conversas divertidíssimas, brincando na praça até altas horas eu só ouvia as gargalhadas. Era muito bom o natal de Alagadiço na minha infância. Já participei de muitos naquele lugar marcado por incríveis histórias do cangaço.

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