domingo, 15 de abril de 2012

Cuidado com o tarado


Quando eu tinha 12 anos, A cidade estava em polvorosa. O medo tomava conta de muitos, inclusive de mim que tremia só em pensar na possibilidade de ficar cara a cara com o monstro que aterrorizava a cidade. Em todo canto que eu chegava ouvia uma nova estória relatando mais um ataque. “Dessa vez foi na casa de fulana”. O medo passou a fazer parte da rotina principalmente das mulheres. Ninguém queria ficar diante do tarado. Ele, ou eles agiam de preferência à noite, mas ouvi inúmeros relatos de ataques matutinos e vespertinos. Não sabia eu que o tal monstro era um libertino que estava tão somente satisfazendo a luxúria, a libertinagem e a concupiscência de mulheres pecaminosas. Segredos de alcova que abusava de minha inocência.
Um dia eu andava pela avenida e vi um tumulto na casa de Mané, era por volta de dez da manhã e sua esposa estava desmaiada no seu quarto. Sofrera um ataque do tarado. Mané ao tomar conhecimento do ocorrido chegou em casa apressado e com seu chapéu preto que tinha uma catinga miserável, colocou sobre o rosto da esposa para que esta recobrasse os sentidos após a libidinosa investida do maldito. Cada um tem seu jeito de curar o efeito da perniciosa ação do tarado. Esse logo deu resultado.
Ela levantou-se da cama lânguida com uma cara de santa pudica, para não usar uma palavra que com certeza o leitor já imaginou. “Eu estava no quintal estendendo a roupa quando aquele homem se aproximou fumando um cigarro estranho, quando senti aquele cheiro fiquei ariada e não vi mais nada” Mané encafifado, coçou vagarosamente a testa.
Mulheres e homens da vizinhança além de acudirem à coitada, prestaram solidariedade ao marido. Essa cena com o passar dos dias foram se tornando corriqueiras, causando medo nas mulheres. Vez por outra, se ouvia dos quintais gemidos e em seguidas gritos “Socorro oi o tarado” Era uma epidemia, até hoje ninguém conseguiu pegar o tal tarado, depois fiquei sabendo que eram muitos tarados atacando até mesmo em suas alcovas, mocinhas virgens e até distintas senhoras casadas da comunidade. Mereceu até palavras do padre no sermão. O delegado imprimia diligências infrutíferas. Algumas coroas balzaquianas quando gritavam por socorro , torciam o nariz e as coitadas eram motivo de galhofa.
Uma conhecida moça da cidade com medo do tarado, pediu a minha mãe para que eu fosse dormir com ela na sua casa, eu fui durante várias noites, seus pais estavam viajando e ela com medo me pediu esse favor. Um dia no meio da madrugada ela me acordou assustada. “O tarado está forçando a porta do quintal” Apesar do medo que tinha desse monstro fui até lá e vi com meus próprios olhos a porta sendo forçada. Fiquei apavorado e sai correndo para a rua chamei o vizinho e este veio com um revolver, abriu a porta e efetuou alguns disparos em direção ao escuro.
Mais uma vez o tarado conseguiu escapar. Por isso não parou de agir, esse foi descoberto todos viram ele pulando o muro da Rua do Cinema. Dias depois surgiu um comentário que a moça mantinha um caso amoroso com esse suposto tarado. Nem mesmo uma respeitada professora da cidade foi poupada pelas investidas do tarado e eram vários tarados agindo em horários e modos diferentes. Um dia conversando na praça com Cucuta, ele esclareceu para mim que essa estória de tarado era pura balela. O que havia na cidade era muita putaria, de mulheres safadas, gaieras, traindo seus maridos e inventando essa desculpa esfarrapada de tarado. Ainda bem, a partir daquele dia perdi o medo de tarado.

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