terça-feira, 24 de abril de 2012

Grossura x Lesma de pau

Quem nunca sonhou ser um jogador de futebol? Pois eu nunca sonhei, apesar da paixão platônica pela bola, sempre tive plena consciência de minhas limitações quando se trata de habilidade com a pelota. Na minha infância em Frei Paulo sempre fui o dono da bola e escalado para jogar no gol. Isso gerou em mim uma profunda frustração e por essa razão, há muito tempo não jogo bola, nem no sonho. Mas essa semana, joguei no pesadelo. Acho que exagerei um pouco no jantar e quando me envolvi nos braços de Morfeu, no mais profundo sono, estava já em campo. Era uma partida muito estranha. Minha irmã Erta, era a minha técnica e com a simpatia que lhe é peculiar, foi logo sentenciando. "Prepare-se para perder. você está na final da copa que vai eleger o pior jogador do mundo" Eu? Olhei para os lados e a torcida era um bando de zumbis enfurecidos, jogavam tomates podres e toda sorte de porcaria em mim. O campo tinha as dimensões de uma quadra, uma paredinha e tela. Do lado direito a torcida do meu adversário o Lesma de Pau. Do lado esquerdo a minha torcida que gritava com vigor: "Grossura, Grossura". Onde diabos me arrumaram esse apelido? Perguntei à técnica porque eles torciam por mim, um perna de pau contumaz? Ela foi curta e grossa: “Eles eram torcedores descontentes com o Lesma de Pau e que revoltados torceriam por qualquer um que estivesse ali, por pior que fosse”. Minha torcida parecia bem maior. O juiz era um cara gordo, canecão de cerveja na mão, olhar de durão usava uma camisa puída do Vasco. Pelo seu bigode parecia um português bem ordinário. O apito era uma mine flauta, mas tinha o som de buzina de trem. Minha técnica disse que pesquisou o adversário, Lesma de Pau por muito foi considerado um crack, jogava no CSU, sempre na reserva, mas o alcoolismo o afastou dos campos e passou a jogar buraco. Virou um fracassado, tudo que lhe restou foram velhas e amareladas fotos dos seus tempo áureos. O juiz apitou fomos para o centro do campo, comecei a me aquecer dando pique no lugar e flexão, igual ao Coalhada, foi quando ouvi um estalo. Aíiiiii foi o meu menisco. Chamaram o massagista, quando o negão que lembrava o Geraldão entrou correndo com a maca na mão, fiquei bom na mesma hora. E saí correndo em direção à zaga e comecei a me aquecer. Lembrei de quando era criança e vivia sonhando em ser um jogador profissional, cheguei a tentar entrar no juvenil do Paulistano; foi um vexame o meu teste. Na hora das embaixadinhas só dei uma. E outra na segunda e última chance. Pedro de Elpídio me disse: “sai pra lá seu “perna de pau” Quando o jogo começou vi a bola rolar com desenvoltura nos pés, já não tão hábeis do Lesma, vi em seguida a pelota escapulir na minha direção na altura ideal para soltar aquele canhão. Mas quando chutei com toda força parecia que tinha chutado uma bola de assopro, a bola foi para o lado batendo na parede e voltando ao campo adversário. Olhei direito a pelota no centro do campo e vi a marca "canarinho" e das branquinhas, ninguém merece. O jogo todo só dava isso, os goleiros dormiam o tempo todo em suas rede armadas nas traves. A bola era muito leve por isso nem eu nem o Lesma, conseguia uma finalização, tudo ia parar na parede. O primeiro tempo acabou zero a zero. Fui para o vestiário ouvir os xingamentos de minha técnica. Ainda antes de voltar a campo o repórter Pingo de Coalhada me perguntou sobre o jogo. Eu falava como um jogador profissional cuspia a cada três palavras e disse que iria levantar a cabeça e sair com um resultado positivo. Numa mesinha ao lado destinado à crônica esportiva. O comentarista Wellington Golias, o diabinho, de rabinho, chifrinho e tudo nos olhava com desdém, e fazia um efusivo comentário: "passes perfeitos e sincronizados" "devoluções precisas" por fim arrematou: “a parede foi a maior figura em campo em campo”. O segundo tempo prosseguiu com um festival de micos e quixotadas. Ainda bem que acordei antes do fim do jogo.

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