quinta-feira, 12 de abril de 2012

Todos preferem a avenida


Um grupo de amigos segue para a avenida. Passamos em frente ao antigo Talho Municipal prédio antigo onde funcionou uma serraria. Lá dentro um único funcionário ás voltas com enormes tábuas entre maquinas e montanhas de pó de serra. Airton de Nicinha grita na porta “ÊÊ Zé Calolô, cabelo de ourôrô” isso deixa furioso o baixinho, filho mais velho de Seu Hilarino e D. Caçula. Ele vem com uma ripa na mão e o grupo corre em direção à avenida onde a pelada era diversão garantida. A turma era de colegas bons de bola, se reuniam toda tarde, Marquinhos de Daniel, Mario de Tonho de Dalila, Bruglei filho de Nete e Tonho, Celso de Zé Pequeno. Bento de Diógenes e muitos outros. As partidas eram vez por outra interrompidas pela passagem de grandes boiadas, elas vinham do beco do monturo avançavam pela avenida de dimensões continentais indo até a casa de Seu Zequinha, a última da Avenida que na verdade era um sítio incrível onde se cultivava toda sorte de frutas e até mesmo pimenta do reino. Ali todo o gado simplesmente desaparecia tomando o rumo da Imbira.
Toda vez que essas boiadas passavam era um show de vaquejada. Um garrote cismava em voltar à fazenda de origem e a Avenida José da Cunha era o local escolhido para o ilustre ruminante, numa disparada alucinante desafiar os vaqueiros. Estes em seus cavalos partiam velozes para cercar o animal e trazê-lo de volta à boiada. A impressão que se tinha era que eles passaram meses e meses ensaiando aquela linda performance. Todo rebanho que passava dava seu espetáculo, e nós interrompíamos o jogo para assistir com o maior prazer. Bem diferente eram os comboios de burros egressos do alambique, esses por sua vez vinham na direção contrária, cada um trazendo dois barris de cachaça. Esses animais conformados, não faziam qualquer estardalhaço simplesmente trotavam ligeiros levando sua preciosa carga em longinquas viagens.
Sim, era na avenida a residência de muitos personagens marcantes, ali também ficava o Fomento onde em qualquer distração de seu Manoel do Fomento, seu administrador, sorrateiramente adentrávamos a fantástica fábrica. Ficávamos escondidos entre fardos de lã e montanhas de algodão em travessuras impagáveis, saltos desconcertantes e brincadeiras de “mãozo” que duravam horas e horas de puro divertimento. No fim da tarde saia todo mundo com a pele encaroçada pela alergia provocada pelo algodão. Atrás de álcool para amenizar a coceira.
As peladas na avenida eram sempre interrompidas, daqui a pouco uma nuvem se aproximava. Eram as tanajuras que eram recebidas com cantigas pela molecada: “cai cai tanajura na panela da gordura”. A nuvem passava entre os oitizeiros e os moleques a gritar e encher bolsas de papel, pedidas nas bodegas. Quando perdem as asas as tanajuras parecem formigas gigantes. Elas de fato são mesmo formigas, serviam para muitas brincadeiras e inclusive para tira-gosto para um grupo de biriteiros que se instalava ali em frente a bodega de Seu Jozino. Até mesmo as tanajuras preferiam a avenida para cumprir sua sina. A avenida sempre foi um vibrante pedaço da pacata Frei Paulo, com sua poeira vermelha às vezes contemplada em pequenos tornados.

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