sábado, 14 de abril de 2012

Frei Paulo de chuteiras


Até parece que foi ontem. Eu era um menino de calças curtas, com oito anos de idade. Em 2010 completou quarenta anos. Meu Deus como o tempo voa. Estava na casa de D. Cacilda na Rua de Itabaiana e ela enquanto cantarolava uma cantiga de forró do “Crepúsculo Nordestino” costurava para mim uma bandeira do Brasil, ela cantava: “tengo lengo tengo lengo tengo” e a euforia já impregnava as ruas, todos contaminados por um patriotismo desmedido, fruto da campanha avassaladora de Brasil Grande pregada pela ditadura. Era véspera da última partida que decidiria a copa do México. Dias após a vitória, Clodoaldo desfilou nas ruas de Frei Paulo em carro aberto e foi saudado por uma multidão.
Naquele dia acordei cedo e vestido a caráter, de verde e amarelo sai empunhando minha bandeira cheio de orgulho. Na porta do bar de Zé Pequeno, logo cedo já havia uma concentração de técnicos discutindo a escalação do time, e que time. Pelé, Tostão, Rivelino, Jairzinho e claro Clodoaldo que por ironia do destino seria um filho da terra e um dos integrantes do elenco de ouro. Por lá Joãozito, Epitácio, Chicão, Cisso Pinguinho, Zé Totonho, Ranulfo, Soares, e o próprio Zé Pequeno já coordenava as apostas. Ninguém falava em derrota, em questão, somente de quanto seria o placar a favor do Brasil. Às dez horas da manhã o bar de Dário já estava lotado, nas mesas cheias de cerveja Brama, o clima era de puro otimismo. Por lá Djalma, Tonho de Batista, Selmo de Normando, Dedé de Mané Bomzinho e muitos outros, já comemoravam antecipadamente a vitória do Brasil. O placar não poderia seu melhor, Brasil 4 Itália 1.
Todos teciam comentários elogiosos ao técnico Zagalo, neste dia sai percorrendo os quatro cantos da cidade e aonde chegava a conversa que ouvia era só elogios ao Zagalo, ele foi o único a conquistar o título de campeão do mundo como jogador e como treinador. Naquele dia, fui a todos os locais onde os grupos se reuniam. Na bodega de minha mãe, D. Helena, na de Zé Siqueira e Seu Augusto, na de Seu Jozino, na de Salomão, no Bar de Zé Fuliá, ali um grupo já festejava a vitória com brindes de casca de pau. Outro grupo alegre se formava na bodega de Seu Horácio na Praça da Feira. Outro termômetro eram as barbearias, a de Zé Barbeiro, a de Bastião, a de Zezé e a de Mané Fozinho. Este decretava a vitória e completava ”É orde oficiá” A cidade respirava futebol.
Em 1970 poucas televisões existiam, essa foi a primeira copa do mundo transmitida por TV, mesmo assim em preto e branco, portanto a cena mais comum era ver os desportistas passarem com seus radinhos de pilha colados no ouvido, era uma atenção total aos comentários e a Rádio Globo era a líder de audiência naquele dia. Aonde se chegava só se ouvia o hino:
“Noventa milhões em ação, pra frente Brasil, salve a seleção. De repente é aquela corrente pra frente...”
Era uma avassaladora onda de patriotismo e amor aos nossos heróis, uma paixão jamais vista. Aquele era o time dos sonhos, na linha de frente, liderados por Pelé, no auge de sua carreira, que aos 29 anos, deixaria ao mundo um legado de jogadas geniais, os jogadores brasileiros trouxeram a taça Jules Rimet na Copa do Mundo de 1970, no México. A consagração do melhor futebol do mundo. A mascote da Copa do México foi Juanito, um menino sorridente que aparecia com um sombrero e uma bola sob seu pé direito. Quem odiou a figura foram os mexicanos: "horrível, óbvio, de mau gosto, perigosamente folclórico e insultuoso".
Frei Paulo se transformou numa cidade em êxtase ao fim daquela partida. Alheio à realidade política da época, corri alegremente pelas ruas, gritando Brasil, Brasil Brasil e comemorando aquele momento de gloria inesquecível. Em 1970, o Brasil vivia a euforia do "milagre econômico" com o PIB crescendo a taxas elevadas, concomitantemente a uma enorme repressão política sob a vigência do AI-5. O governo do general Médici (1969-1974) utilizou-se da vitória da seleção no México para reforçar sua campanha ufanista, sintetizada no lema: "Brasil, ame-o ou deixe-o."

2 comentários:

  1. POXA NUNCA SOUBE QUE O CLODOALDO VEIO FESTEJAR EM FREI PAULO,,,, DEVE TER SIDO MUITO EPECIAL ESSE DIA,,,,, EITA TEMPO BOM QUE NAO VOLTA MAIS....

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  2. Lembro dessa noite, desfilou em carro aberto e com uma bola na mão, por onde passava era muito apludido. Frei Paulo naquele tempo tinha o futebol como sua maior paixão, era o assunto favorito nas rodas. Naquele tempo o Paulistano enfrentava Sergipe, Confiança e Itabaiana com muita bravura, chegando a vencer algumas vezes, quando não empatava, quando vencia eram festas memoráveis.

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