sábado, 5 de março de 2011

Hoje seria dia de careta


“Cara de Gata , Cara de Gata” diz o animado refrão da marchinha carnavalesca , tocada no baile onde tantos risos e danças , talco e serpentina se misturavam nos confíns da minha infância. O bar de Dário fervilhava , com os casais flertando alí pelo coreto. De dia essa alegria contagiava os freipaulistanos e visitantes. Chegava a noite, lá pelas 8 no melhor da noite, elas chegavam para meu desespero. Eu era uma criança medrosa que tremia nas bases quando me deparava com aquelas criaturas horripilantes , tenebrosas. Elas se comunicavam através de um ruído e aquele ruído era onomatopeicamente assim (phrriiinnn).“arrrrgh, arf, arf,uf, uuf. Fiuuuuuuuuu arrrgh, arf, arf, uf, uf, uf arrrrrrrrrrrrrhg! Uf!!” - Chega? ...

As caretas para mim causava trauma. Eu me lembro quando sai do baile , fui tenebrosamente assustado por uma delas. Olhos de fogo cabeleira aloirada e eu alí imóvel , indefeso, vulnerável. Quantos anos faz isso? Depois Eu mesmo virei uma careta para superar esse medo, mas toda vez que me vestia de careta era desmascarado e humilhado. Olhavam pra mim e diziam olha quem é e já iam puxando a máscara,e tome-se safanão. Era uma grande humilhação. Costumavam fazer isso com caretas pequenas. Um dia me vesti diferente, como um capêta, vesti roupas pretas, pintei de piche a careta e fui para a rua com meu bando de caretas. Mudei o caminhado e naquele dia assustei um monte de crianças. Me senti de fato uma careta.

O carnaval em Frei Paulo tinha essa tradição momesca que aos poucos foi sendo esquecida. Haviam bandos enormes de caretas no carnaval de Frei Paulo. As mães advertiam “ vá durmir cedo menino hoje é dia de careta” E as caretas faziam um espetáculo que antecedia o show da orquestra comandada pelos membros da Filarmónica. O Grêmio Sesquicentenário fervilhava com lindas colombinas e aqueles beberrões a abrir alas no salão de baile. E haja talco e serpentina, de confete o chão virava tapete. Veja o que diz o Portal Pernambuco nação cultural :

( Segundo alguns estudiosos, a origem da festividade não faz parte do período carnavalesco, mas do Natal, quando dois Mateus de um reisado se embriagaram durante a apresentação e foram proibidos de participar da manifestação. Inconformados, eles vagaram fantasiados pelo município, fazendo barulho com um chocalho e inaugurando a brincadeira.)

Mas o carnaval de hoje é bem diferente assim como foi diferente num passado ainda mais remoto e será bem diferente no futuro, afinal carnaval é sempre a mesma coisa só mudam as caretas.

Zé Matos e Pedro de Elpídeo mandavam ver no trobone e a bateria impecável dos filhos de Elizeu, faziam do carnaval de uma pequena cidade de interior , uma festa de pompa.

Hoje quando vejo nosso carnaval, me dá vontade de chorar de tristesa, não que seja saudosista, sempre carnaval pra mim foi sinônimo da escárnia, mas essa alegria não me convence, acho definitivamente que envelheci, virei careta.

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