domingo, 13 de maio de 2012

História musical de Frei Paulo


Caminhava pela praça e ouvia acordes de clarinetes. Dali da Bodega de Zé Correia já ouvia o doce murmúrio das horas se esvaindo sob aquele clima frio de ventos gelados vindos talvez da Serra da Miába que dos nossos arredores parecia tão perto, mas tão longe, chegando a ter cor azulada. Confesso que diversas vezes já pensei em ir a pé até o topo daquela misteriosa montanha. Tão visível para nós, parecendo algo inatingível. Todas as vezes que fui ao Tanque dos Cavalos para refrescantes mergulhos contemplava essa serra tão linda tornando a paisagem algo maravilhoso, talvez indescritível. Sob acordes de lindos dobrados. Mas já era noite e o destino mais interessante era ver João de Santa exercitando sua paciência em aulas de clarinete.
Na verdade eu nunca fui aluno da filarmônica, mas gostava muito de observar ele ensinando meninos e meninas a tocar seus instrumentos e logo vê-los desfilando garbosos, nas memoráveis apresentações da União Lira Paulistana. Homens como João de Santa são raríssimos, um poeta, historiador altamente envolvido com a arte, mas antes de tudo um belo exemplo de humildade. Era impressionante ver aquelas mãos calejadas das lidas de suas roças pelo dia, na noite tirar melodias lindíssimas no cavaquinho, no clarinete, no trombone. No trompete. Um multi-instrumentista de virtuosismo incomparável.
O seu nome é João Alves de Oliveira, esteve presente durante 54 anos na música freipauistana. Assumiu essa árdua missão das mãos do seu mestre Modesto Almeida, de saudosa memória. Ele deixou Frei Paulo levado pela família para o Rio de Janeiro com sua saúde em frangalhos, após a morte de sua esposa Carmozina Almeida.
João de Santa não era um simples professor, mas um mestre para muitas crianças e adolescentes de Frei Paulo que através dele não foram somente musicalizados, mas beberam na sua fonte de sabedoria, daí ser tão amado por muitas gerações. Um homem ligado a preceitos morais rígidos que na época condenava a droga que minava a juventude freipaulistana, o álcool. Homem de caráter irrepreensível, mas dotado de uma humildade de fazer inveja a qualquer um ser humano.
Uma vida de altos e baixos, de parcos recursos e dificuldades nunca foram obstáculos para seus ideais. Por isso cumpriu sua missão com muita responsabilidade; e em meio a partituras de grandes mestres, também ousou , tornando-se autor de peças belíssimas, dobrados espetaculares tocados com inspiração pelos seus alunos.
Todo aquele seu entusiasmo parece que contagiava a todos sem exceção. Frei Paulo tinha a melhor banda de música do estado, isso era uma realidade. Enquanto esse homem esteve à frente da União Lira Paulistana. Tendo atuado antes na Lira Sagrado Coração de Jesus fundada em 1902, sendo comandada pelo competente músico Francisco Alves de Carvalho Junior.
João de Santa realizou pesquisa junto à Banda de Itabaiana onde tudo foi devidamente documentado inclusive o salário do maestro 50 mil reis e mais a moradia. Segundo a pesquisa quatro anos mais tarde surgia a Lira Independente N. S. da Conceição fundada pelo senhor Conrado Tavares da Silva e comandada pelo competente maestro Jason Tavares da Silva, morto em Carira por José Boteco. Com a sua morte houve uma união das duas bandas dando origem a União Lira Paulistana. Sendo maestro Edeltrudes de Oliveira Teles. João de Santa assumiu a banda em 1953 e a dirigiu até 1958, passando o comando ao inesquecível maestro Genésio Pereira de Souza que permaneceu até 1970, voltando o comando para João de Santa.
Frei Paulo é uma cidade privilegiada , embalada pela música e poesia e com cenário paradisíaco com vista para a Serra da Miába , rica em ouro prata e ferro. Firme com a serra e reluzente como o ouro, é esse matuto inteligente e forte conhecido como João de Santa.Um mestre na arte musical e um poeta tarimbado em suas rimas perfeitas. Uma lenda vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário