terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

O gênio Zé de Graça


“A imaginação é mais importante que o conhecimento”

Quem numa tarde qualquer, via aquele homem branco, idoso, com seus óculos escuros pilotando sua bicicleta, que imprimia uma velocidade além do normal, uma barra circular monark ano 1974, equipada com marcha, e dezenas de outros acessórios, passando pela rua do cinema, virando na rua de Itabaiana onde ficava a casa de Seu Armindo. Seguia em direção à praça da feira cumprimentava aos que se abrigavam no Posto de Zé Onofre. Homem de semblante tranqüilo e idade avançada, mas o porte físico, magro e atlético de quem teve uma vida dividida entre a cidade a roça e a oficina no Bêco da Santa onde sempre morou. Estamos falando de um dos homens mais criativos e inteligentes de Frei Paulo.
Zé de Graça era um homem movido por descobertas, nunca foi à escola, não teve oportunidade de se aprofundar na ciência e talvez nunca tenha ouvido falar em energia quântica nem átomo, prótons e nêutrons, mas de sua oficina saia muitos inventos . Sabendo de sua fama como inventor, um dia matei a curiosidade e fui à sua casa. Confesso, fiquei surpreso com tantas criações. Suas telhas jamais saiam do lugar, pois inventou uma pequena peça fabricada em lata que segurava a telha, travando, tornando impossível ser removida pelo vento ou quem sabe pelos gatos que correm pelos telhados.
A casa lembra o laboratório do Professor Pardal, pedaços de peças de todos os tipos e por todos os lados, engenhocas inacabadas pelos cantos, carcomidas pela ferrugem. Algumas simples e outras de maior complexidade, que nem mesmo ele sabia explicar pra que servia. “Aqui é a rádio que eu fiz” Mostrou uma mine emissora de rádio onde tocava músicas e vez por outras falava para alguns ouvintes. No quintal, uma asa de avião. “Fiz mesmo um avião” disse ele, e de fato construiu no início dos anos 60 uma pequena aeronave. Fez o avião para ir para a roça. Voava baixo e costumava pousar na avenida José da Cunha. Naquela época não existiam os pés de oiti, e mais parecia um excelente campo de pouso. Da aeronave sobrou uma asa e alguns pedaços da fuselagem, pois o avião, fora destruído a golpes de foice por um sujeito barbudo e meio louco que atendia pelo nome de Rosendo de Catita.
Era um homem que só saia de casa em dia de feira. Sua esposa jamais foi vista na rua , não sei o nome dela mas lembro-me bem de sua fisionomia. Ela mirava sempre o marido com uma profunda admiração, quando o via discorrer sobre seus inventos. Os dias , os meses e os anos se passaram e Zé de Graça gastava os seus dias pensando, raciocinando... Tudo em sua casa funcionava por meio de botões, alavancas. Estou com sede, puxava uma alavanca e já vinha até a boca uma caneca de água do pote bem fresquinha. Já imaginou um homem inteligente como ele, vivendo em um mundo virtual como esse de hoje. Albert Einstein iria tirar o chapéu para ele por isso, nada mais justo do que encerrar essa crônica com uma frase do físico e humanista alemão autor da teoria da relatividade: “A imaginação é mais importante que o conhecimento”

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