sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

A casa mal assombrada


Nos anos 70 os carros passeavam pela praça tocando sucessos da época, canções de Roberto Carlos. A noite chegava, e os carros circulando pelas ruas. Isso era uma diversão de muitos, gastar gasolina passeando por toda a cidade. Pelo dia lavavam suas máquinas no Tanque dos Cavalos, e ali mesmo na sombra de três grandes baraúnas aplicavam cera e gastavam horas no polimento. Tudo para á noite circular e impressionar as meninas. Assim que saiam do Ginásio Cônego José Leal Madeira a juventude se dirigia ou para a praça do Coreto ou a da Matriz onde a paquera acontecia. Poucos tinham carro, porém quem tinha caprichava. Um dia, lá pelas 22 horas, à essa hora, moça nenhuma mais estava nas ruas. Alguém disse ter ouvido barulhos estranhos vindos de um casarão. O local era a casa de D. Creuza. Esta distinta senhora havia a pouco tempo se mudado para Aracaju e o casarão estava vazio. Por sinal ela é a mãe de Tanajura. Essa casa já foi demolida e no local foi construída a agência do Banco do Brasil de Frei Paulo. Bem ali na esquina da rua que vai dar no cemitério.
Ao lado, na época ficava a agência do IBGE, e meu pai Seu Bastos era o chefe. Um detalhe curioso, é que meu pai era um funcionário exemplar , seu trabalho com estatística era tão reconhecido pela impecável realização dos recenciamentos, que o IBGE, o recontratou mesmo depois de aposentado. Ele, contudo, tinha hábitos meio estranhos, bebia Pitu ao meio dia e dormia a tarde inteira. Mas passava a madrugada em claro digitando relatórios numa velha máquina de escrever Remington. Seu Bastos, era um cético e não estava nem aí para a barulheira no casarão de Dona Creuza.
Após as 23 horas uma multidão de curiosos se aglomerava na praça e a cada pancada, muitos se benziam e faziam o sinal da cruz. Beatas sentenciavam: “São almas penadas” outros moleques corriam para rua ao lado e jogavam mão cheia de piçarra no telhado, estas por sua vez desciam pelas bicas de zinco provocando um efeito sonoro fantasmagórico. Foi um pandemônio que durou dias. Foram ao padre João pedir para ele ir até a casa para fazer algum ritual de exorcismo para aplacar a fúria dos fantasmas. Mas, o padre João fez pouco caso para o pedido.
Era o assunto favorito em todas as rodas, na cidade inteira só se falava nisso: nas almas penadas que noite e madrugada adentro, arrastavam moveis e pareciam estar quebrando tudo no casarão. Mas com o passar dos dias, tudo voltou ao normal e a cidade seguiu sua rotina. Um dia bem tarde, fui ver papai na repartição e já era quase meia noite, então perguntei a ele. “Rapaz você não tem medo de trabalhar aqui justamente onde os fantasmas estão aterrorizando a cidade?” Ele com aquele riso maroto olhou para o portão e disse: “Olha lá os fantasmas entrando “ Quando reparei,observei uma meia dúzia de gatos passando pelo velho portão de ferro do casarão.

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