segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Conta Outra...


“Fez tanta presepada que acabou até famoso, mas num veio tão mentiroso ninguém pode acreditar”
Quem se lembra do personagem de Chico Anísio, o Pantaleão, esse cara mentia pra encardir e com suas estórias mirabolantes deixava qualquer um de queixo caído. Na minha infância, me deparei com personagens meio parecidos com ele, no distante mundo de sonhos e fantasias de minha infância em Frei Paulo. Impossível esquecer se o exemplo estava tão por perto. Meu próprio pai, seu Bastos que respondia pelo carinhoso apelido de Pipi , as vezes deixava no chinelo o velho comediante com suas estórias, fruto da mais fina lavra de sua imaginação . Sempre foi um homem de negócios, bar, bodega por último a Farmácia São Paulo que comprou de Paulinho da Farmácia. Ali no início da noite, por volta das 7 horas, enquanto as beatas papa óstias seguiam para a igreja, um grupo se reunia. Todos se tratavam por “compadre”. Compadre Rubéns (prefeito) Compadre Avelino, Compadre Justiniano, Faroaldo, Fleory, entre outros... As estórias eram tantas e tão diversas que narravam aventuras em todos os campos da natureza humana. Seu Bastos tido como homem dotado de rara imaginação, em outras palavras o mais mentiroso de todos. Seu Bastos só interrompia a prosa para atender algum cliente e mesmo assim não perdia a oportunidade de contar suas estórias. “Essa mulher entrou agora para comprar um xarope Vick, eu estive na fábrica a semana passada, trata-se de um passeio promovido pela indústria farmacéutica para mostrar como se fabrica os medicamentos. Fiquei impressionado com uma única folha de hortelã eles produzem 1000 frascos de xarope.”
Numa viagem ao Rio de Janeiro ele se recordou de um baile de carnaval à moda antiga quando foi cortejado pelas lindas beldades. Um galã se aproximou de uma linda jovem e a convidou para dançar , mas a resposta veio logo : "Não dá meu lindo eu estou afim mesmo é daquele sergipano ali” . Eram mais cabeludas as estórias quando partia para o quesito futebol ou pesca “ Fiquei conhecido no eixo Rio São Paulo como Belas Pernas um zagueiro que beira as raias da perfeição.” Mas não era o maior mentiroso da cidade, perdia para Osvaldo Belo . Este mentia com tamanha desenvoltura, a ponto de suas estórias por mais estapafúrdias que fossem, virassem no mínimo meias verdades. A fama de Osvaldo Belo batia na de Pipi e no veio Mané Fozinho, barbeiro do mercado municipal. Esse mentia com mestria, enquanto fazia barba cabelo e bigode. A história mais gozada de Osvaldo Belo, é a que relata uma virada de caminhão carregado de discos de vinil. Um disco voou da carga e caindo sobre um arranhento , um pé de juá, um espinho serviu de agulha a música não parava de tocar “Volte pra mim Duvalina meu amor”.
Passei a infância ouvindo essas e tantas outras estórias e contemplando a fama de Osvaldo Belo e outros famosos contadores de casos. Porém, a imagem verdadeira que guardo dele é de uma vida reclusa, dentro de uma oficina consertando velhas máquinas de costura, uma vida devotada à esposa Duvalina. Era um homem de poucas palavras e raramente era visto nas rodas, mas sua fama de mentiroso era indiscutível.
Quando havia um velório, a diversão estava garantida. Exímios contadores de estória varavam a madrugada narrando verdadeiros romances, eivados de fabulosas narrativas e fantasias impressionantes. Os contadores de estória mantinham uma cara séria e compenetrada,dando uma incrível aura de veracidade aos seus relatos. As rodas de mentirosos migravam de um lado a outro da cidade, hora no bar de Zé Pequeno, hora no bar de Diógenes que se chamava "O Exato", hora na farmácia de Zé Caixeiro.Ou na bodega de Zé Correia.

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