quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A caminho do açude


Foram incontáveis as vezes que fui ao açude de Frei Paulo. De baleadeira no pescoço, olhos atentos aos arvoredos, para matar passarinho. Hoje eu jamais faria isso, mas naquele tempo a gente até colocava sangue na forquilha para atrair mais vítimas, elas indefesas eram garrinchas e tizios. Esses pássaros pequenos eram os únicos que eu conseguia acertar, jamais uma rolinha ou nambu. Caçar e pescar eram coisas tão naturais na minha infância e servia para demonstrar nossas habilidades. Por isso, seguia para o açude, onde havia uma mata com muitos pássaros. Um dia eu meu amigo de infância Sergio Santos fomos justamente ali, próximo ao açude caçando, e de repente uma nambu bem ali nos nossos pé , ela estava dormindo e nem percebeu a presença dos predadores. Mostrei a Sergio e disse que ia pega-la de mão, mas ele prontamente disse perai. Pegou uma pedra bem redondinha, colocou no couro e a queima-roupa, ou melhor à queima-pena deflagrou uma pedrada certeira. A nambu voou e pousou uns cem metros adiante. Deve ter doído muito, mas não o suficiente para abater aqueça cobiçada ave. Ávidos por peixes e passarinhos, por um propósito único: comer, se alimentar. Naquele tempo nossa mesa não era tão farta assim, eram outros tempos, e para se sentir saciado nos tornamos caçadores e pescadores exímios. As vezes caçar só por caçar ou pescar só por pescar. Preenchia o tempo e dava prazer os passeios inesquecíveis em direção ao açude. Lendas povoam o imaginário dos freipaulistanos em relação àquele grande açude construído pelo DENOCS com o objetivo de armazenar grande quantidade de água para combater a seca daquela região.Foi justamente para combater a fome e a falta de água que o governo federal construiu açudes no semiárido nordestino. O açude de Frei Paulo, não me refiro, contudo ao açude Buri, esse parece mais um tanque grande na margem da Br 235, entre Itabaiana e Carira. O Çude de Frei Paulo tem uma barragem na fazenda que pertencia ao Dr. Rúbens e ai segue serpenteando até o Coité, margendo a fazenda que pertencia a Batista Felix. Ali o gigantesco reservatório de água doce, se mistura às águas salobras do Rio Salgado.
Já pesquei muita traira, tilápias, corrós e outros peixes como acará e cumatá que não encontrávamos no Tanque de Bebê nem no Tanque dos Cavalos, portanto valia a pena uma légua de caminhada para chegar até lá. O açude tinha um barco que usávamos para passear pelo seu leito, mas ao mergulhar em suas águas sempre sentir algo muito estranho, uma espécie de energia negativa, algo assustador. Um pescador me disse que isso é a agonia dos que morreram afogado em suas águas. Um jovem muito querido na cidade , conhecido como Viuvinha morreu afogado no açude. Eu era muito pequeno mas me lembro quando o seu corpo chegou a Frei Paulo ,fora trazido numa rede e as moças choravam sua perda, um cena muito triste.
Tem uma história de pescador que relata a existência nas águas do Açude Buri, de um peixe, um surubim , bem criado, “maior do que um homem” que até hoje vive em suas águas. Muito dizem ter visto o grande peixe e pescadores mais ousados , como Zé Barbeiro e Paulo de Miguezinho , já tentaram capturar o peixe com anzóis grandes , usando trairas médias como isca. Nunca deram sorte e até hoje o tal surubim vive por lá, vira e mexe é avistado por um popular. Muitos juram ter visto o bicho.
No inverno , o açude transborda e o seu sangradouro vira um rio de cachoeira e corredeira, num terreno atrás da barragem, cheio de lajedos , ai é uma festa da natureza e os peixes e pássaros se tornam abundantes, ir ao açude pescar , caçar ou mesmo tomar banho era uma aventura inesquecível.E olhe que as caçadas entravam pela noite nas faxiadas, mas ai é assunto para outro dia.

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