sexta-feira, 29 de janeiro de 2010


AS MIRABOLANTES AVENTURAS DE UM ÁS DA FAB


De fato eu ouvi o som daquele avião. Se tivessem batido uma fotografia aérea, naquele instante, lá estava pláscida a cidade de Frei Paulo como jamais tornará a ser , dona de um tempo inesquecível de nossa infância, entre o Educandário Imaculada Conceição e a casa de platimbanda no Bêco do Talho. Estava eu na sala debruçado à mesa de fórmica , adquirida com tanto esforço por minha mãe para proporcionar conforto em nosso lar. Estava sobre a mesa, um caderno de dever retangular, com sua capa azul e folhas de papel pautado, onde anotava-se o dever de casa passado por nossa professora Irací, irmã de Inês e filha de D. Caçula, mestra tarimbada reconhecida como enérgica educadora . O dever era de geografia e ali eu respondia a essa pergunta: O que é um Cabo? Cabo é uma faixa de terra que avança para o mar. No meio daquele mundo de descobertas, afinal a professora naquele tempo ensinava todas as matérias. Principalmente religião.

Tal qual um poema de Ferreira Gullar, o avião passou sobre meu telhado, voando baixo. Uma que já eu tinha um grande fascínio por aviões , ou melhor queda de aviões que só viamos nos filmes sobre a Segunda Guerra no cinema de Frei Paulo, verdadeiro patrimônio cultural destruído e esquecido, que só poucas gerações tiveram o previlégio de desfrutar , ali na Rua do Cinema.

Era um avião de guerra , ele singrava o ceu da cidade voando baixo e dando sinal de emergência. A cidade inteira ficou em polvorosa com tão inusitado fato. Era 3:30 da tarde, quando aquele avião começou a sobrevoar Frei Paulo , hora descia em direção à Av José da Cunha , hora à Praça da Feira. Logo deu pra perceber que tratava-se de uma emergencia. Eu e a maioria das pessoas da cidade fomos pra rua assitir aquela cena de filme. O tempo passava muito rápido e logo já era fim de tarde e o avião não parava de roncar sobre nossos tetos, muitas mulheres foram para a igreja rezar, pedir pela vida do piloto.
Já era noite quando o tenente aviador tentou pousar numa rua de piçarra na saida da cidade, depois da Praça da Feira. Passou entre dois poste, e ainda tocou uma das asas da aeronave e foi parar ali onde hoje é o posto de gazolina. Lembro quando me aproximei do avião com suas metralhadoras nas asas e o nome FAB na fuselagem. Em meio à poeira vermelha, desceu um rapaz alto, de olhos azuis. o seu nome era tenente aviador Luis, vinha de Cipó da Bahia e teve problemas durante o vôo. Foi um verdadeiro milagre, o avião teve que ser desmontado, pois não tinha como decolar. Na época, Frei Paulo tinha a fama de terra de mulheres bonitas, e Marta de Ranulfo, a Miss Cenecista , miss das escolas da Cenec. Lembram? A linda jovem aproximou-se do piloto e disse: "um rapaz tão jovem quase perder a vida aqui neste sertão." As lágrimas rolaram do rosto do aviador. Por incrível que pareça, esta é uma história real.
Grande quantidade de pessoas de cidades vizinhas como Itabaiana, Ribeirópolis, Pinhão e Carira formavam verdadeiras caravanas para atestar a veracidade da notícia do avião que fez um pouso de emergência em Frei Paulo. No dia seguinte, outro avião desta feita um teco-teco. pousou no local com oficiais da Aeronáutica que vieram à Frei Paulo para realizar as investigações do acidente aéreo. Nunca se viu tanta movimentação e novidades. Nas conversas que adentravam a madrugada tecendo lhoas ao piloto e sua incontestavel habilidade. Dava-se as mais absurdas versões. Mas tudo acabou bem, por pura sorte, coisa do destino.

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