segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Uma lição de mestre

Dentre os sergipanos ilustres que marcaram presença e se destacaram no século XX, Zé Peixe ocupa seu lugar de destaque nessa pequena galeria de notáveis. Para quem ama ,o que o renomado historiador, Luis Antonio Barreto, de saudosa memória, denominou de sergipanidade, é impossível não vibrar ao ler ou ouvir os feitos do prático Zé Peixe. Prático é aquele homem que guia grandes navios. Um dia o Fantástico da Globo, mostrou como era a vida de Zé Peixe no seu exótico trabalho. Saltava dos navios e nadava na sua frente guiando a embarcação pela parte mais profunda do mar para evitar que o navio encalhe nos bancos de areia que , nos mares de Sergipe são móveis e não tem local para aparecer . Os capitães de grandes petroleiros que cruzaram a plataforma continental nas últimas décadas sempre teceram comentários elogiosos ao heroísmo e determinação de Zé Peixe. Era uma figura simples e muito humilde, era comum ver essa celebridade sergipana de calção, pés descalços , cruzando o calçadão da João Pessoa ou a Avenida Ivo Prado com sua pele ressecada por horas e horas de sol e sal. Conversava alegremente com todos e fazia pouco caso para sua fama internacional. A Marinha do Brasil já fez diversas homenagens a Zé Peixe, por sua atuação brava , afinal em quase todos os naufrágios que ocorreram na costa aracajuana, ele era o primeiro a chegar e o último a sair. Não queria sossego enquanto o último tripulante não estivesse a salvo. Felizes daqueles que foram contemporâneos desse sábio nadador, para muitos um anjo salvador diante da fúria do Atlântico. Uma lenda cantada em prosa e versos em Sergipe e além fronteiras. Já com idade bem avançada Zé Peixe nadava com boa desenvoltura e os pescadores cansavam de encontra-lo em alto mar, todos os dias nadava quilômetros e quilômetros, passeava pelas plataformas de petróleo, sendo um alento para marinheiros perdidos em meio as tormentas das tempestades da nossa costa. Aparecia como um anjo salvador para os desesperados náufragos, todos sabem o quanto é traiçoeira a boca da barra. Um dia Zé Peixe surgiu entre as ondas da praia do havaizinho e logo, uma roda de surfistas se formou e começaram a lhe perguntar sobre marés ventos etc. Ao assisti a essa mine aula vi ele dizer: “Hoje é o único dia do ano que a maré faz esse movimento ao contrário, puxando para a esquerda”. Curioso perguntei como ele conseguia nadar naquele mar revolto e não esqueço seu olhar amável e afável e a paz que transmitia com uma aura quase que de santo. “ Nadar é como caminhar, você vai devagar e chega a onde quiser” e advertiu que muito barulho ao nadar pode ser perigoso, atrai a atenção dos tubarões. Zé Peixe era inigualável em assuntos marinhos, uma autoridade em conhecimentos dos oceanos . Um desbravador dos seus mistérios.

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